Uma guerra civil que já matou mais de 200 mil pessoas e deixou milhões de deslocados internos e refugiados não só em países vizinhos - mas também na Europa e no Brasil - tem dado ao mundo uma iconografia marcada pela tragédia, destruição, desespero. Desde 2013, o conflito iniciado em 2011 tem sido acompanhado de perto pelo fotógrafo e documentarista brasileiro Gabriel Chaim, um dos poucos estrangeiros a conseguir cruzar a fronteira da Síria com a Turquia e entrar na cidade de Kobane, um dos locais mais tensos do conflito.
O trabalho de Gabriel Chaim é tema da exposição que a Zipper Galeria e a Human Rights Watch trazem ao público brasileiro de 3 de dezembro a 16 de janeiro. Filhos da Guerra: O Custo Humanitário de um Conflito Ignorado, com curadoria de Marcello Dantas, reúne nove imagens e um vídeo feito por drones que mostram a tragédia humana da guerra civil por diferentes olhares: das mulheres, das crianças, dos algozes, em fotos de grande dimensão (1,5 m x 2,25 m), que destoam do padrão das fotos documental e trazem o impacto do drama em cada registro.
A abertura da exposição, em 1º de dezembro, contará com a presença do vice-presidente da HRW, Iain Levine, para falar sobre o conflito sírio e seu impacto humanitário e contará com o talento culinário do sírio Talal, que após campanha de crowdfunding de sucesso lança em breve seu restaurante de comida típica em São Paulo - notadamente uma das cidades que mais concentra refugiados no Brasil e onde a presença imigrante síria é parte inalienável de sua formação enquanto metrópole.
A exposição
Primeira ação cultural da HRW no Brasil, a individual, segundo o curador, Marcello Dantas, buscará dar a "noção de quem são as vítimas e quem são os algozes" no conflito e "o que é a vida cotidiana nessa região". O curador conta que instigou o fotógrafo a não apenas registrar o conflito por meio de imagens, mas também buscar as histórias de cada indivíduo e local registrado, que estarão na exposição junto de cada uma das fotos.
O público da exposição poderá ver, nas fotos, uma quase preponderância da presença feminina na mostra. Segundo Dantas, isso ocorre porque, em uma guerra, "a mulher torna-se a sociedade. A sociedade passa a ser tocada por ela, uma vez que o homem sai em guerra e ela fica."
Para o vice-presidente da HRW, Iain Levine, a exposição de Chaim insere São Paulo, sede do primeiro escritório da instituição na América Latina, na cadeia global de ações culturais da entidade. "O Brasil, mas, sobretudo, São Paulo, tornou-se um dos principais destinos dos refugiados sírios na América Latina, o que torna a exposição um marco simbólico muito forte da questão dos refugiados quanto do início das nossas ações no Brasil", afirma.
Sobre o artista
Gabriel Chaim é um fotógrafo e documentarista brasileiro especializado em coberturas em áreas de conflito, crises e situações extremas. Publicou trabalhos em reconhecidos meios de comunicação, como CNN e GloboNews. Além do trabalho atual sobre o conflito da Síria, Gabriel Chaim atuou cobrindo turbulências recentes no Egito, Iraque, Irã e na Faixa de Gaza. Sua busca é sempre por histórias de pessoas que buscam sobreviver em tais condições. Chaim realiza também trabalho humanitário em parceria com grandes ONGs internacionais para a ajuda dos refugiados.
Sobre o curador
Marcello Dantas atua como produtor e curador de exposições desde 1986, assinando projetos para algumas das mais importantes instituições culturais do país. Foi um dos responsáveis pela concepção do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, onde atuou como diretor artístico. Formado em Cinema e Televisão pela New York University (NYU), e pós-graduado em Telecomunicações Interativas pela mesma universidade, Dantas organizou a premiada exposição "Still Being", do artista britânico Antony Gormley, que aconteceu em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, em 2012 foi a sétima mais visitada no mundo naquele ano. Ele também é responsável pelo evento de arte pública "OIR - Outras ideias para o Rio" (2012), com obras de Robert Morris, Jaume Plensa, Brian Eno e Ryoiji Ikeda instaladas em locações icônicas e ao ar livre do Rio de Janeiro. A segunda edição de OiR acontece entre 2015 e 2016. Outros projetos recentes assinados por ele foram as exposições "Invento - As revoluções que nos inventaram" (2015), na OCA, e "ComCiência" (2015), de Patrícia Piccinini, no Centro Cultural Banco do Brasil.
Human Rights Watch
A Human Rights Watch (HRW) é uma organização não governamental sem fins lucrativos que defende os direitos humanos em mais de 90 países. Tem mais de 400 funcionários e escritórios em Bruxelas, Genebra, Zurich, Johannesburgo, Nairobi, Washington, Tóquio, Sydney, Moscou, Beirute, Berlim, e Nova Iorque, dentre outras cidades ao redor do mundo. As equipes da HRW contam com profissionais de diversas áreas: advogados, jornalistas, acadêmicos de diversas carreiras; mais de 60 nacionalidades e de 80 línguas faladas. A HRW é reconhecida por investigações aprofundadas sobre violações de direitos humanos, a elaboração de relatórios imparciais sobre essas investigações e o uso efetivo dos meios de comunicação para informar e sensibilizar diversos públicos sobre essas causas. Contando com o apoio de organizações locais de direitos humanos, publica mais de 100 relatórios e artigos sobre direitos humanos em todo o mundo anualmente. A partir de casos concretos de violações, a HRW se reúne com governos e organizações internacionais para propor políticas públicas e reformas legais necessárias para proteger direitos e garantir a reparação para vítimas de violações passadas.