Quase apagamento/tempo arenoso
Embora o tempo exercite invariavelmente sua dinâmica extenuante em avançar sobre infinitas coisas, lugares, paisagens, sensações, seres e recantos da alma, sempre nos iludimos pela inoperância humana em acompanhá-lo. Impregnado de sequência, frequência, ritmado pela espera da certeza cravada, o tempo se dilui pela imaginação e dá infinitas voltas na memória. Iludimos o tempo para pensarmos pelo desejo de sermos areia. De termos a natureza elegante e dual do espectador-protagonista, dono do seu próprio tempo, sem princípio nem fim.
Tempo Arenoso ecoa o gesto em tentar caminhar por imagens, um lugar e seus horizontes, apreendendo fenômenos que estavam a denunciar o interesse pela temporalidade. Este trabalho trata da paisagem como pensamento, desloca-se do tempo físico para o contemplativo, do tempo registrado pela fotografia e convertido em suspensão de memórias. Memória esta que não é do estado de lembrar-se sobre a paisagem vista, mas, contudo, da natureza maleável da experiência em fomentar o desejo de viver mais pela própria imagem fotográfica.
Num quase apagamento, Tempo Arenoso nos convida a sossegarmos o olhar e a quase fechá-los para que viajemos para dentro do nosso tempo. Certo estava Jorge Luis Borges quando dizia: “A cegueira gradual não é uma coisa trágica. É como um lento entardecer de verão”. Gosto de pensar que escapar das imagens e retomarmos a elas é uma tentativa de solapar o vazio. Seja como for, a paisagem surge quando colocamos o tempo dentro dela, quando trazemos o horizonte para dentro de nós.
Georgia Quintas/Olhavê