A utilização de penas em estruturas tridimensionais tem sido um dos objetos de pesquisa na obra de Zé Carlos Garcia. Em sua primeira individual em São Paulo, o artista carioca dá continuidade ao trabalho com escultura plumária e apresenta uma peça de grande formato que ocupará integralmente o espaço expositivo. Com curadoria de Raphael Fonseca, vencedor do prêmio Marcantônio Vilaça de curadoria em 2015, a mostra Ganimedes abre também o calendário deste ano do Zip’Up. O programa acontece na sala superior da Zipper Galeria desde 2011 e é destinado a produções experimentais e projetos curatoriais inéditos.
A pesquisa artística de Zé Carlos se desenvolve principalmente no campo da escultura e da instalação. Suas peças contrastam o trabalho da mão humana para fins escultóricos com um caráter por vezes visceral e incontrolável da utilização de material orgânico. Para tal configuração da imagem, materiais como madeira e metais são justapostos a penas e corpos de animais. Os fazeres da marcenaria e da metalurgia caminham, portanto, juntamente com a colagem, a costura, e convidam à exploração desses corpos estranhos pelo corpo do espectador.
O título da exposição deriva das narrativas clássicas sobre a figura de Ganimedes, o belo jovem troiano por quem Zeus se apaixonou e raptou na forma de uma águia. Transformada diversas vezes em imagem na Antiguidade Clássica, e por artistas como Rembrandt e Rubens, essa narrativa ganha outro eco a partir do projeto de Zé Carlos Garcia.
A peça principal, feita com uma estrutura maleável e partes que ocuparão a sala expositiva do chão ao teto, permite que o público explore seu interior e entorno e perceba as nuances cromáticas e a sensação de peso sugerido pelo içar do trabalho no espaço. Mais do que definir uma fisicalidade para Ganimedes, deseja-se que o espectador sinta-se na pele do próprio e, confrontado por essa escultura formada por penas, reaja fisicamente a essa lembrança da águia que o envolve. Além da instalação principal, Zé Carlos exibe também sete peças menores feitas em madeira tornada.
Sobre o artista
Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou escultura na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Dentre suas exposições individuais, destaque para Finca (Galeria Amarelonegro, Rio de Janeiro, 2015); Prumo (Memorial Meyer Filho, Florianópolis, 2014) e Jogo (Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, 2013). Destaque para as coletivas Tórrido (Espacio Odeón, Bogotá, Colômbia, 2015); Criaturas imaginárias (Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro, 2013); From the margin to the edge – Brazilian art and design in the 21st century (Somerset House, Londres, Inglaterra, 2012) e Nova escultura brasileira – herança e diversidades (Caixa Cultural Rio de Janeiro, 2011).
Sobre o curador
Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Trabalha como crítico, curador e historiador da arte. Doutorando em Crítica e História da Arte (UERJ). Professor do Colégio Pedro II. Escreve periodicamente para as revistas ArtNexus e DasArtes. Recebeu o Prêmio Marcantônio Vilaça de curadoria (2015). Como curador de exposições e mostras de cinema, destaque para Quando o tempo aperta (Palácio das Artes, Belo Horizonte e Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, 2016); Derek Jarman – cinema é liberdade (Caixa Cultural Recife, 2014); Água mole, pedra dura (I Bienal do Barro, Caruaru, PE, 2014); Deslize <surfe skate> (Museu de Arte do Rio, 2014) e City as a process (Ural Industrial Biennial, Ekaterinburgo, Rússia, 2012). Organiza sua produção crítica e curatorial no blog Gabinete de Jerônimo.