A inquietação de Ursula Tautz talvez seja a de muitos que estão na eterna busca de um pertencimento. O deslocamento, ou a sensação de um presente que não é preenchido, é uma das grandes questões trazida em Lugar familiar, com curadoria de Isabel Portella. Primeira individual da artista carioca em São Paulo, a mostra faz parte do programa Zip’Up, dedicado a projetos mais experimentais e curatoriais inéditos.
A busca de Úrsula começa em uma viagem feita à cidade de Oldrzychowice Klodzkie, na Polônia, local de origem de sua família e antiga cidade alemã devolvida aos poloneses após os russos expulsarem as tropas germânicas na Segunda Guerra Mundial. Ao refazer essa trajetória, Úrsula foi ao encontro de um passado desconhecido, mas que nunca deixou de ser presente.
Na tentativa de recuperar esse espaço, a artista visual se funde na paisagem e na terra. Com um vestido vermelho e em posição fetal, constrói um novo cenário a partir de suas fotografias. Ao mesmo tempo em que este é seu local de aconchego, é também um ambiente estranho, onde as casas já não estão mais no mesmo lugar, as pessoas já não se mostram hospitaleiras e as cores e os cheiros não são os mesmos de outrora.
A individual conta com quatro fotografias em grande formato e uma videoinstalação, além de um objeto tridimensional na forma de um balanço estático. As fotos sobrepostas e manipuladas digitalmente resignificam o espaço e criam uma nova narrativa tanto para a cidade estrangeira quanto para a artista. Ao mesmo tempo em que ainda é estranha ao ambiente, a fotografia, pensada ao acaso, a regista como pertencente a ele. Sua inquietação quanto a este lugar de (não)pertencimento encontra-se em sua busca nesta exposição, fazendo com que a contradição entre o conforto e o incomodo seja sentida pelos visitantes.
Sobre a artista
Ursula Tautz nasceu no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha utilizando-se de fotografia, vídeo e instalações. Cursou a ESPM, além de ter frequentado oficinas da “School of Visual Arts /NY”, e a partir de 2005 a Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Em 2013 integrou o Programa Projeto de Pesquisa, coordenado por Glória Ferreira e Luiz Ernesto. Participou de várias exposições coletivas, como Intervenções Urbanas Bradesco ArtRio 2015 e Reminiscências no CCJF com curadoria de Isabel Portella. além da individual Fluidostática na Galeria do Lago ( Museu da República). Foi também selecionada pelo crítico Fernando Cocchiarale para o “Programa Olheiro da Arte”.
Sobre a curadora
Isabel Sanson Portella é museóloga e crítica de arte, Doutora e Mestre em História e crítica da arte pela Escola de Belas-Artes/UFRJ, Especialista em História da Arte e Arquitetura do Brasil pela PUC-Rio, Pesquisadora de acervo e Coordenadora da Galeria do Lago - Arte Contemporânea do Museu da República/IBRAM/MinC.