Talvez seja mais uma questão
de buscar estar em casa aqui,
no único momento e contexto que temos...
Ian Chambers
Ursula Tautz apresenta fotografias e uma videoinstalação. Pesquisando as relações que envolvem o habitar, o pertencer, a artista utiliza a (re) significação do espaço para o desenvolvimento de suas questões: a inquietação, um certo mal-estar permanente, condição pós-moderna de ser estrangeiro na própria terra. A série de fotografias foi desenvolvida na cidade de Ołdrzychowice Kłodzkie, Polônia, antiga Ullersdorf an der Biele, local de origem de sua família. São cinco fotografias manipuladas digitalmente, impressas em papel fotográfico sobre PS, além de uma projeção em looping na parede. Nestas apreensões, em posição fetal e de vermelho, a artista atua como personagem para se fundir à paisagem e à arquitetura. Após o registro, Ursula sobrepõe duas ou mais fotos, criando um duplo dela mesma, procurando outros significados para o espaço fotografado.
Ursula faz uma viagem de buscas. Intrigada com a trajetória familiar, vai ao encontro do passado que não conheceu, mas que está sempre presente, povoando de lembranças e memórias o seu cotidiano. Refazer o caminho percorrido por seus parentes é um impulso vital, necessário e urgente. Mais do que tudo, a artista procura a sua história, seus locais de pertencimento, suas raízes. É importante que nada fique esquecido. Nem a guerra, nem a fome, nem a casa da Polônia e seus arredores. Refazer ciclos ajuda a aplacar angustias e sentimentos de falta, mas nunca o estranhamento do não pertencimento.
A proposta da artista é bastante reveladora de suas inquietações. Em solo polonês, terra natal de seus ancestrais, Ursula busca renascer, encontrar seu lugar. Assume uma posição fetal e se deixa fotografar sobre a terra, sobre a vegetação que cresce independente, sem cuidados. Ali é seu lugar de gestação, lugar secreto, aconchegante e familiar, mas também, de certo modo, estranho. “O estranho é algo secretamente familiar que foi submetido à repressão e depois voltou”, segundo menção de Freud, desenvolvida no ensaio “Das Unheimliche” (1919). A identificação com o lugar é tanta que ela mesma vai aos poucos se misturando à vegetação. A luz e as cores completam o texto que surge por trás da imagem. Com extrema delicadeza, as imagens de Ursula falam de reencontro, mudanças, entrega e aceitação.
Isabel Portella