Primeira leitura: Marcelo Amorim

18 Fevereiro - 15 Março 2014

No dia 18 de fevereiro, às 19h, a Zipper Galeria inaugura a exposição Primeira Leitura, de Marcelo Amorim. Na mostra, com curadoria de Paulo Gallina, são exibidos trabalhos em papel em grandes dimensões, nos quais o artista reproduz, com tinta acrílica e aquarela, ensinamentos extraídos de cartilhas escolares dos anos 1920. Em cartaz até o dia 15 de março.

 

As imagens presentes nas obras que fazem parte dessa exposição foram encontradas por Marcelo Amorim em suas constantes visitas a sebos de livros antigos, bazares e lojas de segunda mão. "Quando encontrei estes livros fiquei maravilhado com a qualidade das ilustrações e ao mesmo tempo um pouco chocado com o conteúdo que disseminavam", conta o artista. "Alguns costumes que se reiteram até hoje podem ser mais facilmente detectados ali. Parece que vemos ali uma história pregressa, origem de mal entendidos e preconceitos", diz ainda.

 

Esses trabalhos dão segmento a um tema já pesquisado por Marcelo Amorim há alguns anos: o aprendizado baseado em imagens aparentemente inofensivas, mas que são na realidade tendenciosas. "Há alguns anos pesquiso livros didáticos, procurando problematizar uma pedagogia das imagens", explica. "Nesta série apenas procuro refletir sobre o fato de usarmos livros didáticos culturalmente tendenciosos desde a primeira infância e em tantas situações. Temos fotos tendenciosas nas paredes e ensinamos uma História tendenciosa ilustrada com mapas tendenciosos. Determinadas imagens reforçam o poder, intimidam, ou simplesmente promovem a manutenção de opiniões que favorecem os que detêm o poder", finaliza.

 

"Essas construções de Marcelo Amorim explicitam um procedimento moralizante transmitido para as gerações mais jovens através não dos preconceitos - habitantes da margem de nossa cultura - mas sim da mais explícita implicação cultural no ocidente, o livro. O artista tenciona as leituras indicadas pelos autores, de quem se apropria de desenhos e as frases que os acompanham, para assim explicitar paradigmas repressores disfarçados como aceitação do outro", analisa ainda o curador Paulo Gallina.

 

Sobre o artista

Marcelo Amorim - Natural de Goiânia (1977), iniciou seus estudos sobre fotografia na Universidade Católica de Goiás com Rosary Estevez. Integrou o grupo de acompanhamento de processos artísticos com Juliana Monachesi e Guy Amado entre 2007 e 2008. Participou do Ateliê Fidalga, grupo de pesquisa coordenado por Albano Afonso e Sandra Cinto entre 2009 e 2010. Dirige desde 2009 o Ateliê 397, espaço independente de arte contemporânea. 

 

O artista faz da apropriação e da prática de colecionar imagens a estrutura de sua poética. Suas obras estão caracterizadas pela transformação e construção de imagens pré-existentes, levantando questões sobre as possibilidades de processamento e significação. 

 

Exposições individuais: Missing, Centro Cultural Sao Paulo (2008), Iniciação, Galeria Oscar Cruz (2010), Intervalo, Galeria Jaqueline Martins (2012). Exposições coletivas selecionadas: Paralela 2010 // A contemplação do mundo - Liceu de Artes e ofícios de São Paulo, São Paulo (2010) - Jogos de Guerra: confrontos e convergências na arte contemporânea brasileira - Caixa Cultural, Rio de Janeiro (2011) - Abre Alas 8 - A Gentil Carioca, Rio de Janeiro (2012) - Os melhores venenos - Galeria Alvarez, Porto - Portugal (2012) ,  As tramas do tempo na arte contemporânea: estética ou poética? - Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto (2013).

 

Sobre o curador

Crítico de arte independente, curador residente GLOC e professor, Paulo Gallina formou-se em História pela Universidade de São Paulo (USP) e passou pelo Ateliê OÇO (2010) e Ateliê 397 (2013) como crítico residente. Atuou como Crítico e Curador do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake (2010-2013). E sustenta o diálogo acadêmico através de palestras e por sua participação no Grupo de Estudos de Crítica e Curadoria da ECA-USP orientado pelo professor doutor Domingos Tadeu Chiarelli (2009-2012). Nos últimos anos curou as exposições Nino Cais: Das Bandeiras e dos Viajantes (SESC, São Paulo, 2013), WMT (Galeria Marilia Razuk, São Paulo, 2014) e Primeira Leitura (Zipper Galeria, São Paulo, 2014), tendo sido publicado na coletânea crítica O MAC essencial II e no catálogo da exposição Os primeiros 10 anos do Instituto Tomie Ohtake, da qual também foi um dos curadores.