Memória possível: Ricardo Rendón

2 - 30 Abril 2016

Pensar a escultura como uma performance talvez seja uma das principais propostas do mexicano Ricardo Rendón para sua segunda individual na Zipper Galeria. O título, Memória Possível, reflete sobre as inúmeras probabilidades de se dialogar com uma obra de arte, pensando o objeto não apenas como elemento estático, mas como algo que pode ser remodelado pelas pessoas. “Mais que objetos terminados, vejo em minha produção o desenvolvimento de uma forma em contínua evolução, uma forma determinada pelo ato criativo e pelas diferentes condições dos ambientes de trabalho”, afirma o artista. 

 

A ideia de ação ganha ainda mais força nesta exposição. Para o artista, a produção está além do ato de fazer, mas também na presença em tempo e espaço. Grande parte do trabalho, por isso, será realizado na própria galeria, dialogando com o ambiente e com a cidade. Da mesma forma que a obra deve ser moldada, a própria paisagem é modificada pelos que circulam e interagem com ela.

 

Em suas produções, o mexicano utiliza diversos tipos de materiais como gesso, feltro e cimento, misturando práticas industriais e artesanais. Seus trabalhos instigam os sentidos por meio do contraste e da flexibilidade de seus elementos, e estimulam o pensamento ao refletir sobre as ausências que moldam a vida. Ao discutir sobre prática escultórica da arte contemporânea, Rendón parte da matéria para discorrer sobre a velocidade da sociedade na qual vivemos.

 

A mostra contempla três conjuntos de trabalhos: um feita com placas de mdf e plástico laminado colorido (Instável); outro com pedras naturais modificadas, como mármore e rochas finas (Memória Possível); e, por último, um de esculturas modificadas e complexamente interligadas (Vazio Acumulado). São séries que, a partir de suas superfícies artesanalmente perfuradas, enfatizam o trabalho manual e lidam com a ideia de multiplicidade e disposição dos materiais em diversas camadas. 

 

São nessas construções, que dialogam com o acúmulo dos objetos, que se encontra um dos grandes interesses do artista: o vazio. De acordo com Rendón, é pela desmaterialização e pela criação de um espaço negativo que a matéria se fortalece, a partir de seu desgaste e esvaziamento. Não por acaso, ele costuma incluir os pedaços retirados das peças como parte das obras. 

 

Para Rendón, é no ver e no tocar que acontece o processo de criação da obra. Os materiais utilizados na exposição, por exemplo, são característicos da produção manual, como marcenaria e carpintaria. São todos elementos tridimensionais que estão diretamente ligados com a produção e o fazer artesanal, e que revelam a prática repetitiva do artista. Em suas perfurações, os materiais são deixados e espalhados no chão, criando traços do tempo e do vazio da matéria.