Para a instalação de 2006 intitulada Wall Work (Drill Work), Ricardo Rendón furou repetidamente uma parede de drywall, até deixar quase perfeitamente visível sua estrutura interna. Em obras mais recentes, como bem sabe quem acompanha o trabalho do artista mexicano, os furos tornaram-se algo parecido a uma marca registrada, uma intervenção eminentemente "autoral", e, portanto, devida e imediatamente reconhecível, como a fita azul de Edward Krasinski, ou, em outro contexto, as garrafas de Giorgio Morandi. Pode ser útil retomar um trabalho como Wall Work (Drill Work), um dos que inauguraram o modus operandi de Rendón, porque são nessas primeiras experiências que a relação com o universo da construção civil, e mais especificamente com o fruto de um fazer manual, quase operário, é mais explícita e direta, e permite entender melhor os desdobramentos posteriores.
Em textos e declarações sobre seu trabalho, o artista tem enfatizado exatamente a relação com o aspecto manual, do qual ele reconhece tanto o lado prático quanto um valor por assim dizer filosófico: "Parece-me que a execução do trabalho constitui um momento de profunda reflexão pessoal, um instante de concentração". É por isso que se torna tão importante, na economia do trabalho e para a sua correta compreensão, a presença constante dos rastos da performance do artista, como as sobras de material, a serragem e a poeira que se acumulam no chão ao furar, e ali são deixados.
Parece possível afirmar, então, que o ato de furar a parede, ou qualquer superfície, foi escolhido por Rendón como estratégia primordial porque permite uma visão "através". Não se trata apenas de enxergar para além do primeiro plano, mas de "ver" a espessura desse plano, reconhecendo, por exemplo, na parede branca, o fruto de um trabalho físico, com sua acumulação de esforço e conhecimento, e não apenas o convencional muro branco da galeria de arte, noção no fundo abstrata e portanto, contraditoriamente, quase intangível.
A análise de um outro trabalho da década passada, Puerta Cerrada (2007), confirma a interpretação de que o que move a prática de Rendón é um esforço constante por descobrir e destapar conflitos de natureza social, apontando para a relação idiossincrática entre o que fecha a visão e o que deveria deixar ver através. Nesse caso, o artista construiu no Parque México, na Cidade do México, um cubo de tijolos, do tamanho de um quarto ou pequena casa, sem nenhuma abertura, mas com desenhado o contorno de uma porta e três janelas, a sugerir exatamente a potencialidade (ou a necessidade) de furar a estrutura.
A partir dessas considerações, é possível ler nos trabalhos que integram agora a exposição na Zipper uma nova virada na trajetória de Ricardo Rendón. Contra o pano de fundo de uma visão social que continua bastante clara na maneira como o ato do trabalho físico é entendido, o artista parece voltar a enfatizar o valor escultórico da sua produção. Evidentemente, as obras de Rendón nunca deixaram de ser propriamente escultóricas, ocupando, de maneira ineludível, o espaço expositivo, mas o que vemos aqui é uma nítida preocupação com questões específicas da escultura, notadamente o tratamento do peso, ou a maneira como o peso da peça não é acessório, mas central na constituição do trabalho. Ao suspender fragmentos de chapas de pedra e de madeira, Rendón coloca essas questões em pauta, ao passo que sugere um diálogo com referentes da história recente da escultura ocidental, como a série das Gravitaciones de Eduardo Chillida, entre outras possíveis referências, que justifica a sua reivindicação de um papel central para a escultura no panorama artístico contemporâneo.
Jacopo Crivelli Visconti