Oxímoros: James Kudo

24 Fevereiro - 21 Março 2015

Oximoro é uma figura de linguagem que harmoniza dois conceitos opostos formando um terceiro conceito. James Kudo é um criador de oximoros: nas suas colagens, pintadas à mão, as cores são estridentemente silenciosas e nas paisagens, docemente venenosas, tudo parece fixo - na eternidade do instante.

 

Seu trabalho se constrói em relatos, em que a ficção e a não ficção estão continuamente mescladas. São memórias imaginadas borrando a linha entre o real e o irreal. Ele relembra e revitaliza narrativas, transitando entre questões estéticas e ambientais. Viu a cidade-sonho de seus avós submergir nas águas, deixando um rastro de destruição e perdas. E viu surgir uma nova realidade, menos romântica - porém vibrante.  As águas jorrando em cascatas, faiscando energia. Acumulou imagens fugazes e povoou-se de lembranças desconexas.

 

Na reconstrução desse painel de memórias, Kudo cola os fragmentos, opondo referências. Pinta superfícies de madeira imitando o revestimento que a imita; criando um duplo simulacro. Árvores e folhagens, sutilmente desenhadas, sobrepõem-se a explosões de cores cítricas, industriais, que permanecem em suspensão - no momento antes do grito. Na floresta cuidadosamente recortada, colada sobre planos vigorosos e luminosos, mimetizam-se armas. Comportas e águas enfileiram-se hieráticas - em escalas de cor. 

 

Kudo cria, também, pequenas pinturas, como escudos de armas, nas quais estabelece um equilíbrio flutuante dos elementos que aludem às suas vivências: a opressiva presença das comportas, a força cristalina da água e a memória afetiva dos piqueniques no rio. E eles afloram representados por signos criados pelo artista para encarná-los: os sólidos de falsa madeira, o degradé de azuis, os retalhos de xadrez...

 

Na atual exposição, que abre a temporada de individuais da Zipper Galeria, Kudo apresenta também dois site specific, nos quais faz jorrar no espaço as águas aprisionadas em suas telas.

 

Realizada com qualidade técnica impecável, sua estética vibrante e contemporânea remete ao futuro. Não por acaso, o artista foi incluído no livro 100 painters of tomorrow, de Kurt Beers, e sua participação na ART15 - London foi aprovada, com entusiasmo, pelo curador Jonathan Watkins.

 

Construído sobre memórias, o trabalho oximoro de James Kudo nada tem de nostálgico, mas cria situações insólitas - que convidam ao encantamento e à reflexão.

 

Denise Mattar - Janeiro 2015