Em Quando os Monstros Envelhecem, sua nova individual na Zipper Galeria, a artista Flavia Junqueira apresenta trabalhos que refletem sobre os seres e as situações que assombram a infância e mantêm-se de alguma maneira vivos no imaginário adulto. Realizada simultaneamente à 32ª Bienal de São Paulo, a mostra reúne fotografias, objetos e instalações, entre elas o díptico que dá nome à exposição: retratos encenados da artista com o personagem Mickey em representações ambíguas sobre o seu papel como figura presente nas fantasias infantis e adultas.
A mostra reflete sobre o lado perverso que rodeia o universo da criança e se expressa em circunstâncias inusitadas. Dois trabalhos dispostos logo na entrada da sala expositiva traduzem o espírito da individual: ao lado de bandeirolas de festa com a frase “Não consigo respirar direito aqui. Posso sair?”, um cavalo de carrossel atravessado por um lança recebe o visitante. Ou, ainda, na lápide que ocupa o centro da exposição, onde se lê: “Pense como uma festa que um dia foi festa, mas que talvez tenha sido interrompida abruptamente e cujo espaço tenha ficado desabitado e esquecido”.
Se em mostras individuais anteriores as obras apareciam mais uniformes em termos de formato e temática, desta vez Flavia Junqueira reúne trabalhos em diversos suportes – fotografia, objetos e instalação – e utiliza formatos variados para compor uma narrativa coerente.
Se antes o universo da infância aparecia relacionado a uma certa melancolia e desapontamento, nos trabalhos recentes a artista desenvolveu o tema a partir de uma nova perspectiva. “As séries atuais tratam da visão do adulto que está preso a criança, embora consiga ter algum distanciamento em relação a ela. Esse adulto não deixa de temer totalmente seus monstros, porém consciente de seu próprio envelhecimento, intui que tais monstros, agora obsoletos também envelheceram, isso o possibilita talvez não se assustar mais”.
Os textos críticos da exposição são assinados por Mario Ramiro e Daigo Oliva.
Sobre Mario Ramiro
Mario Ramiro é graduado em artes plásticas pela Universidade de São Paulo (1982), mestre em arte e mídia pela Kunsthochschule für Medien Köln [Escola Superior de Arte e Mídia de Colônia, na Alemanha] (1997) e doutor em artes visuais pela Universidade de São Paulo (2008). É professor do Departamento de Artes Visuais e do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes da USP.
Sobre Daigo Oliva
O jornalista Daigo Oliva, 31, é repórter da editoria de notícias internacionais da Folha de S.Paulo. Antes, foi editor-adjunto da Ilustrada e de fotografia do jornal. Edita o blog sobre fotografia contemporânea Entretempos, hospedado no site da Folha.