A nova série de trabalhos de Felipe Cama foge do suporte tradicional da pintura – telas únicas, quadrangulares ou retangulares – para formar mosaicos cartográficos criados a partir do método próprio do artista: a investigação sobre os processos de produção, distribuição e consumo de imagens e a representação digital da vida cotidiana. Os trabalhos estão reunidos em Você chegou ao seu destino, primeira individual do artista na Zipper, que inaugura no dia 11 de novembro. A abertura da exposição acontece durante o Art Weekend São Paulo, um roteiro artístico em que as galerias da cidade funcionam em horário estendido e oferecem programação especial.
As pinturas põem em confronto – ou em diálogo – as concepções de abstração e figuração na arte. “Os trabalhos apagam a fronteira que haveria entre o abstrato e o figurativo. Eles são ambos ao mesmo tempo”, reflete o artista. Paralelamente, refletem sobre os territórios mapeados pelas novas tecnologias e o controle que grandes corporações de tecnologia exercem sobre cada um de nós a partir do smartphone e o GPS, ferramentas hoje banalizadas.
Com um celular à mão, Felipe registrou durante anos seu deslocamento diário em serviços de geoposicionamento online – que monitoram em tempo real a trajetória realizada pelo usuário; depois, o artista verificou o traçado resultante pelo deslocamento em um dia, que foi tomado como ponto de partida para as telas. “Grande empresas de tecnologias monitoram nosso cotidiano, onde vamos, o que vemos, o que consumimos, e oferecem os dados para que outras empresas formulem suas estratégias comerciais. Os trabalhos refletem sobre privacidade e liberdade”, afirma o artista.
Sua individual levanta, ainda, questões ligadas à fragmentação na era digital. As pinturas não são compostas como peças únicas. São chassis individuais que, montados como peças, formam a totalidade do trabalho. Com texto crítico de Giselle Beiguelman, a mostra fica em cartaz até 16 de dezembro.
Texto crítico: Giselle Beiguelman
Giselle Beiguelman investiga a estética da memória e desenvolve projetos de intervenções artísticas no espaço público e com mídia digital. É professora associada do Departamento de Arquitetura Histórica e Estética do Projeto na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo (FAU-USP). Beiguelman é o autora de vários livros e artigos sobre o nomadismo contemporâneo e as práticas da cultura digital. Ela foi chefe do Curso de Design da FAU-USP de 2013 a 2015, onde tem ensinado desde 2011. Entre seus projetos recentes estão Memories of Amnesia (2015), quão pesada é uma nuvem? (2016) e a curadoria da Arquinterface: a cidade expandida pelas redes. Ela é membro do Laboratório de OUTROS Urbanismos (FAU-USP) e do Laboratório Interdisciplinar de Informação de Imagem - Humboldt-Universität zu Berlin. Suas obras de arte estão em coleções de museus do Brasil e no exterior, como a ZKM (Alemanha), a coleção latino-americana da Universidade de Essex, MAC-USP e MAR (Museu de Arte do Rio de Janeiro), entre outros.