A experiência de congelar em imagens fragmentos de uma cidade em trânsito e, por sua essência, transitória, é uma das questões mais presentes no trabalho do artista Ivan Padovani. São Paulo é a figura-chave nesse processo, embora a capital nunca se apresente de maneira clara ou direta. Suas fotos trazem indícios de uma cidade desmembrada em recortes visuais e detalhes imperceptíveis em seus contextos originais, mas facilmente reconhecidos nesta nova configuração por quem circula nesses espaços urbanos ao mesmo tempo tão genéricos e familiares.
É o caso da nova série que exibe nesta individual, Trauma, primeira mostra do calendário Zip’Up de 2018. O conjunto apresenta imagens de obras de infraestrutura paralisadas – uma paisagem quase padrão na cidade, especialmente nos últimos anos que antecederam as transformações urbanas prometidas para a Copa do Mundo. Mas ao isolar esses blocos de concreto e vigas metálicas de qualquer outro referencial, as estruturas ganham o aspecto de monumentos, evocando um certo ideal de transformação que parece ter ficado em suspenso.
“Busco a subjetividade em relação ao ambiente, especialmente como se dá nossa relação com a cidade, onde, contraditoriamente, a arquitetura vem perdendo grande parte de sua simbologia. Eu me aproprio destas estruturas abandonadas, estes monumentos, para demarcar a memória de um insucesso”, afirma o artista.
Idealizado em 2011, um ano após a criação da Zipper Galeria, o programa Zip’Up é um projeto experimental voltado para receber novos artistas, nomes emergentes ainda não representados por galerias paulistanas. O objetivo é manter a abertura a variadas investigações e abordagens, além de possibilitar a troca de experiência entre artistas, curadores independentes e o público, dando visibilidade a talentos em iminência ou amadurecimento. Em um processo permanente, a Zipper recebe, seleciona, orienta e sedia projetos expositivos, que, ao longo dos últimos seis anos, somam mais de quarenta exposições e cerca de 60 artistas e 20 curadores que ocuparam a sala superior da galeria.
Com curadoria de Nathalia Lavigne, Trauma abre no dia 16 de janeiro, junto com a nona edição do Salão dos Artistas sem Galeria, e segue em cartaz até 24 de fevereiro.
Sobre o artista
Ivan Padovani (São Paulo, 1978) é formado em Administração pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), pós-graduado em Fotografia pela mesma instituição e é professor na Escola Panamericana de Arte e Madalena Centro de Estudos da Imagem. Seu projeto Campo Cego integrou a exposição Time – Space – Existence, que fez parte da 15ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza. Também foi contemplado no Concurso Diário Contemporâneo de Fotografia 2014 e ganhador de bolsa para participar do Programa Descubrimientos no Festival PhotoEspaña 2014. Em 2016, foi finalista do Concurso Conrado Wessel de Fotografia com o projeto Superfície, trabalho também selecionado para o Salão Luiz Sacilotto de Arte Contemporânea 2017.
Sobre a curadora
Nathalia Lavigne (Rio de Janeiro, 1982) é crítica de arte, curadora e pesquisadora. Doutoranda no programa de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, é mestre em Teoria Crítica e Estudos Culturais pela Birkbeck, University of London e graduada em Jornalismo pela PUC-RJ. Escreve para publicações como ArtReview, Artforum, Select, entre outras. Foi uma das pesquisadoras do projeto “Observatório do Sul”, plataforma de discussões promovida em 2015 pelo Sesc São Paulo, Goethe-Institut e Associação Cultural Videobrasil.