Em Paradeiro, próxima exposição do projeto Zip'Up, o artista David Almeida apresenta um novo conjunto de pinturas que tratam da paisagem na forma de fragmentos, retalhada de sua totalidade. Com curadoria de Ana Roman, a primeira do artista em São Paulo inaugura no dia 18 de agosto e segue em cartaz até 15 de setembro.
Brasiliense radicado em São Paulo, David parte da experiência do percurso pela cidade, interessando-se, em geral, por formas acidentadas vistas casualmente. Criadas a partir de imagens fotográficas, as pinturas quase sempre fogem da perspectiva horizontal. As situações são retratadas ora em um ângulo de cima para baixo ou vice-versa, evocando o olhar de um espectador que se depara com cenas invisíveis em meio ao excesso de elementos ao redor. “O termo ‘Paradeiro’ designa o local de fim, de chegada e de partida de algo. Nos trabalhos reunidos, David Almeida constrói uma espécie de narrativa sobre o fim, em imagens as quais os referentes pertencem a vivência e ao imaginário de todos, e que, ao mesmo tempo, apresentam-se como fragmentos de não-lugares. Acidentes geográficos, buracos, refúgios improvisados, nos quais a escala é objeto de questionamento do artista”, analisa a curadora.
Se em Conduta de risco, sua série anterior, o artista voltou-se mais para elementos como grades, muros e outras estruturas que remetem a um percurso interrompido, nestes trabalhos recentes o artista investiga fragmentos de paisagem natural, que ocorrem tanto nos ambientes rurais quanto urbano, e como eles evocam com dubiedade cenas sem uma localização específica que pairam em nosso imaginário.
David Almeida é um dos artistas indicados ao Prêmio Pipa 2018. Seu trabalho estabelece diálogos entre pintura, arquitetura, tempo e espaço. “Em determinado momento, um gatilho é desencadeado nas cenas e objetos que vejo. Eles se transformam em imagem e ocorre um estanque de qualquer narrativa. Me dou conta de que não sei nada sobre aquele lugar ou coisa e, então, entendo que existe pintura. É imagem, é espaço, mas também é superfície, cor, matéria, tempo, linguagem”, conta ele sobre seu processo.
Idealizado em 2011, um ano após a criação da Zipper Galeria, o programa Zip’Up é um projeto experimental voltado para receber novos artistas, nomes emergentes ainda não representados por galerias paulistanas. O objetivo é manter a abertura a variadas investigações e abordagens, além de possibilitar a troca de experiência entre artistas, curadores independentes e o público, dando visibilidade a talentos em iminência ou amadurecimento. Em um processo permanente, a Zipper recebe, seleciona, orienta e sedia projetos expositivos, que, ao longo dos últimos seis anos, somam mais de quarenta exposições e cerca de 60 artistas e 20 curadores que ocuparam a sala superior da galeria.
Sobre o artista
David Almeida (Brasília, 1989) vive e trabalha entre Brasília e São Paulo. Bacharel em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília, sua pesquisa se desenvolve por meio de múltiplas linguagens como desenho, objeto, fotografia, instalações, performance e, sobretudo, a pintura. Sua produção tem como eixo as problemáticas do espaço e do corpo em percurso, explorando a visualidade do espaço íntimo, do ateliê, da cidade e da paisagem natural. Investiga os limites entre presença e ausência, o espaço pictórico, elementos da pintura e sua semântica narrativa engendrando conceitos de clausura, fantasmagoria, rigidez social da arquitetura dos grandes centros e deriva como método de estudo de lugares marginais e da paisagem.
Sobre a curadora
Ana Roman é mestre em Geografia pela FFLCH-USP e doutoranda em Art History and Theory na Universidade de Essex. Dedica-se atualmente a pesquisa em arte contemporânea e curadoria. Foi curadora assistente da mostra Entre Construção e Apropriação: Antonio Dias, Geraldo de Barros e Rubens Gerchman nos anos 60 (SESC Pinheiros, 2018) e pesquisadora/assistente de curadoria das mostras Ready Made in Brasil (Centro Cultural Fiesp, 2017), rever_Augusto de Campos (Sesc Pompeia, 2016) , Lina Gráfica (Sesc Pompéia, 2014), entre outras. Curou a mostra Asseidade da fenda, de David Almeida (Centro Cultural Elefante - Brasília, 2016) e dedica-se regularmente a escrita de textos críticos. Desde 2014, participa do coletivo sem título, s.d., coletivo de produção e pesquisa em arte contemporânea, com o qual realizou a mostra O que não é performance?, (Centro Universitário Maria Antonia, 2015) e a mostra Tuiuiu de Alice Shintani (ABER, 2017).