As interseções entre autobiografia e ficção aparecem como o eixo central da coletiva Crash, abrigada no programa Zip’Up. A convite da curadora Fernanda Medeiros e da artista Romy Pocztaruk, os artistas emergentes Camila Svenson, Enantios Dromos, Henrique Fagundes e Pedro Ferreira ocupam o andar superior da Zipper com trabalhos que partem dos universos próprios dos artistas para criar narrativas ficcionais com elementos de seus repertórios visuais e afetivos.
No dia da abertura da exposição – 15 de junho –, o artista Henrique Fagundes realiza a performance Cinema Transcendental. O trabalho é um vídeo baseado em colagens sonoras e visuais, controladas e executadas ao vivo: uma pintura audiovisual que se constrói através de camadas de informação sobrepostas em uma narrativa fissurada e densa, formada por trechos retirados de vídeos apropriados da Internet remixados e misturados com temáticas de figuras geométricas das raves a sons de disparos de armas de fogo.
Já Camila Svenson apresenta a série Terra que finda (2019), em fotografia e vídeo. Trata-se de uma cidade ficcional, concebida pela artista e revistada por ela. “Realizo expedições esporádicas a este território sem nome, inventando um espaço de espera e falsa calmaria, onde o único relógio existente habita a sala escura de uma casa amadeirada. Relógio de corda, que insistentemente toca as 12 badaladas desde que se conhece por relógio - insistindo em uma atividade obsoleta. Algo esta errado mas ninguém consegue explicar o que é”, escreve a artista sobre sua série.
Pedro Ferreira exibe série fotográfica que se articula no poder do discurso visual abstrato e subconsciente, na busca por traças novas diretrizes para tecnologias ultrapassadas. E, por fim, Enantios Dromos mostra fotografias e vídeos, em VHS, que refletem sobre a ressignificação existencial do corpo, a partir performances. A coletiva Crash fica em cartaz até 3 de agosto.
Idealizado em 2011, um ano após a criação da Zipper Galeria, o programa Zip’Up é um projeto experimental voltado para receber novos artistas, nomes emergentes ainda não representados por galerias paulistanas. O objetivo é manter a abertura a variadas investigações e abordagens, além de possibilitar a troca de experiência entre artistas, curadores independentes e o público, dando visibilidade a talentos em iminência ou amadurecimento. Em um processo permanente, a Zipper recebe, seleciona, orienta e sedia projetos expositivos, que, ao longo dos últimos seis anos, somam mais de quarenta exposições e cerca de 60 artistas e 20 curadores que ocuparam a sala superior da galeria.
Sobre os artistas
Henrique Fagundes é um artista multimídia e um dos diretores do Festivau de C4nn3$, festival audiovisual que reside em Porto Alegre - já tendo acontecido nem cidades como São Paulo, Brasília e Córdoba – Argentina. Formado em licenciatura em Artes Visuais no Instituto de Artes, UFRGS, em sua produção poética realiza instalações, performances visuais e sonoras, e busca relacionar os desdobramentos dessas experiências em outras mídias: trilhas sonoras para pinturas e vídeos que servem de gatilho para sons, criando composições e relações sinestésicas.
Camila Svenson é artista visual. Vive e trabalha em São Paulo, especialmente com vídeo, fotografia e apropriação de objetos. Seu trabalho investiga possíveis experiências de encontro ao outro e como estes encontros acontecem e são modificados quando mediados por uma câmera, procurando refletir sobre as muitas concepções e representações que uma fotografia pode ter. Recebeu certificado em Fotojornalismo e Fotografia Documental do International Center of Photography em 2015. Foi parte de mostras coletivas nos Estados Unidos, Colômbia, Brasil, Islândia, Uruguay e México. A individual You Will Never Walk Alone aconteceu no MIS, Museu da Imagem do Som, em São Paulo. Faz parte também do Coletivo Amapoa.
Pedro Ferreira é artista visual e ativista. Utiliza da fotografia e vídeo para conectar assiduamente o eu com o organismo, o grão de areia com o deserto, a falta com o complemento. Articula-se através do poder do discurso visual abstrato e subconsciente em busca de traçar novas diretrizes e sobrescrever tecnologias ultrapassadas.
Enantios Dromos é transativista NB, artista visual, performer e corpo limítrofe. Trabalha do limbo dos gatilhos, atiça raivosamente mentes para imergirem em um inception infinito sobre desprogramação mental e ressignificação existencial. Recorre principalmente aos experimentos com o próprio corpo e outros corpos dissidentes para atuar com suportesdiversos, como vídeo em VHS, fotografia e instalação. Performou durante a SP-ARTE 2018, além de somar parcerias com artistas e coletivos em diferentes projetos, sempre com foco e busca por restituição.
Sobre as curadoras
Romy Pocztaruk (Porto Alegre, 1983) lida com simulações, refletindo sobre a posição a partir da qual a artista interage com diferentes lugares e com as relações entre os múltiplos campos e disciplinas com a arte. Diversas vezes premiado, o trabalho da artista está presente em coleções como Pinacoteca do Estado de São Paulo e Museu de Arte do Rio. Com a série A Última Aventura, em que a artista investiga vestígios materiais e simbólicos remanescentes da construção da rodovia Transamazônica, projeto faraônico, utópico e ufanista relegado ao abandono e ao esquecimento, Romy participou da 31ª Bienal de São Paulo. Principais exposições individuais: Geologia Euclidiana, Centro de Fotografia de Montevideo, Uruguai (2016); Feira de ciências, Centro Cultural São Paulo (2015). Principais exposições coletivas: Uma coleção Particular: Arte contemporânea no acervo da Pinacoteca, Pinacoteca de São Paulo, São Paulo (2015); Télon de Fondo, Backroom Caracas, Venezuela (2015); BRICS, Oi Futuro, Rio de Janeiro (2014); POROROCA, Museu de Arte do Rio de Janeiro (2014); 9ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2013); Region 0, The Latino Video Art Festival of New York, New York (2013); Convite à viagem: Rumos Itau Cultural, Itau Cultural, São Paulo (2012).
Fernanda Medeiros (Porto Alegre, 1989) é curadora, pesquisadora e produtora. Bacharel em História pela PUCRS, cursando a especialização lato sensu em Práticas Curatoriais do Instituto de Artes da UFRGS e graduanda no bacharelado em História da Arte da UFRGS. Curadora Assistente e Coordenadora de Operações no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS). Faz parte do comitê de curadoria da Galeria Ecarta. Idealizadora e editora da Cactus Edições, selo de publicações de artistas. Produtora na Bronze Residência, no festival de video-arte C4NN3S e na Feira Folhagem de publicações. Foi coordenadora do Centro de Documentação e Pesquisa da Fundação Vera Chaves Barcellos (2012-2019) e sócio-fundadora, curadora e produtora no Acervo Independente (2014 - 2017).