Ainda que em transição, o trabalho de Vítor Mizael não abandona o olhar em torno da memória. Em séries passadas, o artista refletia sobre a noção de patrimônio e conservação, priorizando suportes que exprimiam a vulnerabilidade e a perecibilidade da matéria. Agora, o interesse do artista migra para outra perspectiva do mesmo objeto: questões como afetividade e ornamento, e como elas se expressam no espaço e se acumulam ao longo do tempo, viram seu foco. Por isso, ao lado do desenho, surgem bordados em linho, pinturas em azulejos das décadas de 1970 e 1980, objetos em metal que remetem a padronagens de portões domésticos tão característicos das casas de São Paulo. Parte desta produção recente de Vítor Mizael está em sua nova exposição individual no programa Zip'Up, aberta a partir de 29 de fevereiro.
Desde o início de sua pesquisa, Vítor aborda as figuras animais e botânicas pela ilustração científica. Ele se apropria de manuais catalográficos para criar novas formas e buscar outras relações entre os trabalhos que se confrontam no espaço expositivo. Nesta individual, os trabalhos revelam a virtuose do desenho e seu poder de rompimento com a representação do real. Em estandartes de linho bordado e portões soldados, convivem o que antes eram opostos: serpentes e o pássaros - duas figuras frequentes no trabalho do artista - deixam os meros status de "predador" e "presa" e assumem novas simbologias.
Segunda individual do artista na Zipper, a mostra fica em cartaz até 28 de março.
Idealizado em 2011, um ano após a criação da Zipper, o programa Zip'Up é um projeto experimental voltado para receber novos artistas, nomes emergentes não representados por galerias paulistanas. O objetivo é manter a abertura a va-riadas investigações e abordagens, além de possibilitar a troca de experiência en-tre artistas, curadores independentes e o público, dando visibilidade a talentos em iminência ou amadurecimento. Em um processo permanente, a Zipper recebe, seleciona, orienta e sedia projetos expositivos, que, ao longo dos últimos oito anos, somam mais de cinquenta exposições e cerca de 70 artistas e 30 curado-res que ocuparam a sala superior da galeria.
Poemas Visuais na Zipper
A Zipper inaugura no dia 29 de fevereiro um projeto de ocupação da fachada da galeria com poemas visuais. A ideia é que, a cada nova abertura de exposições na galeria, se inaugure um novo poema visual na fachada, ao longo de 2020.
A primeira ocupação será realizada pelo artista Tadeu Jungle com o trabalho VOCÊ ESTÁ AQUI, que hoje também preenche a empena de 555 m² do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), se configurando como o maior poema visual impresso já feito no Brasil.
Concebido em 1997, o poema se multiplicou ao longo dos anos em diversos suportes: pequenos adesivos, pintura sobre tela, caixas de fósforo, placas de metal, copos, camisetas, faixa de plástico presa a avião e instalações de grande porte . Na galeria teremos a exposição de seis novos objetos feitos especialmente para a instalação do MAC.
Similar ao conceito de grafitti, o trabalho não deixou o espaço público e não abandonou características da aparição anônima. "VOCÊ ESTÁ AQUI é um poema Zen. Um poema que chama o espectador para a reflexão daquele momento presente. Ele propõe que experimentemos a realidade direta, aqui e agora", comenta o artista Tadeu Jungle, que também passa a assumir a curadoria do projeto de ocupação da fachada da Zipper.