Por trás dos personagens e cenários aparentemente despretensiosos nas pinturas de Rodrigo Cunha reside o que há de próprio no trabalho do artista. A centralidade na representação da figura humana; o gesto que, ao contrário das pinceladas expressivas, mascara o comparecimento do artista ante a tela; os personagens caricaturais saídos do imaginário do artista, em poses solitárias que revelam algo de íntimo; os pequenos detalhes inseridos como indícios de uma biografia inventada.
Tudo reaparece em Hora do intervalo, terceira individual de Rodrigo Cunha na galeria, aberta a partir do dia 17 de maio. A nova série de pintura se desdobra do que o artista havia apresentado em sua última mostra na Zipper, Jardim cético, em 2015, que reunia figuras exercendo seus ofícios: cenas de labor, da luta diária pela subsistência. Agora, os personagens estão em seus momentos de lazer, ou simplesmente de repouso. Júbilo, prazer, distração norteiam as situações representadas nas telas, que buscam, ainda, a representação de certos tipos que se colocam às margens do convívio social.
As pinturas parecem congelar um dado momento na trajetória destes personagens. Algo estava em curso quando eles pararam para ser retratados. Solitários e rodeados por elementos retirados de suas biografias imaginadas, eles posam como para uma fotografia – neste caso, o “fotógrafo” é o próprio pintor. Se em séries anteriores Rodrigo Cunha retratava personagens de seu imaginário, nessas os representados são baseados em pessoas reais, do círculo de convivência do artista, por quem ele nutre algum tipo de afeto.
Hora do Intervalo fica em cartaz na Zipper até 16 de junho.