Rodrigo Braga expõe, pela primeira vez no Brasil, a série “Ponto Zero”. Fruto de ações performáticas, intervenções ambientais, fotografias, vídeos, instalações e desenhos, a série fala sobre durezas. Mas não sobre aquelas que indicam a capacidade de um material em resistir à deformação, abrasão ou risco - todas estas propriedades observáveis e mensuráveis. Produzida a partir de 2018 entre Brasil, Portugal e França, “Ponto Zero” fala, sobretudo, sobre a rigidez dos espíritos e das relações, que é igualmente empírica, porém de aferição subjetiva.
Como é característico no trabalho do artista, temas complexos e profundos são abordados entre a densidade e a delicadeza poética, sempre com belos jogos simbólicos e visuais que induzem a reflexão. Braga constrói narrativas difusas, com elevada subjetividade, sem destino claro, mas ao mesmo tempo preciso enquanto comentário artístico em relação ao que lhe aflige e inspira no mundo. “Engessamos os sentimentos e as inteligências. Voltamos a carregar, ou a sermos, pedras. A pedra como origem, como retorno do homem ao seu ponto zero”, ele comenta. Assim, entre rochas, gravetos e carvões, o homem solitário busca qualquer sentido. É neste cenário – em que ele segura com as mãos rochas que mais parecem ovos fósseis – onde paira a mínima esperança
Se ao longo de sua carreira o artista enveredou por paisagens úmidas e vistosas, trazendo muitas vezes a vegetação e a animalidade para o cerne de suas discussões, em sua mais recente produção ele apresenta um universo de campos áridos, onde minerais e cinzas predominam. E, como metáfora das polarizações do nosso tempo, a redução da paleta de cores para a predominância do preto e do branco revela as dicotomias e contradições presentes no campo ideológico, evidenciando os contrastes que separam pessoas, grupos e nações.
“Novamente evocamos a arcaica paleta de cores da cal, como as paredes das fortalezas do passado. E tudo o que sabemos agora é que não somos mais modernos. Reconhecemos então as cavernas, os porões dos navios negreiros ou o interior das carvoarias, mas, paradoxalmente, não nos importamos em carbonizar nossa história. Observamos assim as nossas origens mais bárbaras, pois logo assumimos nossos arquétipos mais animais”, comenta. Ou seja, o eixo das preocupações do artista permanece o mesmo: a espécie humana, suas relações, suas maneiras contraditórias de interagir com o meio.
A própria maneira com que o artista concebeu a disposição dos trabalhos no espaço expositivo da Zipper Galeria aproximam a temática às formações rochosas. As peças se encontram em acúmulos, as camadas se sobrepõem. Os trabalhos ficam, por fim, suscetíveis às dinâmicas do mundo, e às metáforas do intemperismo, da sedimentação, da metamorfose, do rolamento e do afloramento.
“Ponto Zero”, primeira individual de Rodrigo Braga na Zipper Galeria como artista representado, inaugura no dia 5 de março e fica em cartaz até 2 de abril de 2022.
Debate com crítico Eder Chiodetto
No dia 9 de março, às 19h, a Zipper Galeria promove um encontro entre o artista e o crítico Eder Chiodetto. Curador especializado em fotografia, Eder é um profundo conhecedor do trabalho de Rodrigo Braga. Ambos debaterão as temáticas presentes na série “Ponto Zero” e suas relações com a produção contemporânea. O encontro é aberto ao público.