"...devemos recordar que se a ideia de um mundo construído de átomos sem peso nos impressiona é por que temos experiência do peso das coisas; assim como não podemos admirar a leveza da linguagem se não soubermos admirar igualmente a linguagem dotada de peso."
Italo Calvino (Seis propostas para o próximo milênio)
Felipe Seixas tem a escultura como meio principal da sua prática artística. Seus trabalhos partem de uma discussão dos princípios matéricos da escultura, como peso, leveza, equilíbrio, e principalmente, a matéria empregada nas obras. Diferente da operação tradicional da escultura, do ato de esculpir propriamente, ou do uso de materiais historicamente tradicionais, como o metal ou mármore por exemplo, as esculturas de Felipe partem primeiramente do encontro de certos objetos e elementos existentes no mundo banal, no dia a dia, como o concreto, vergalhões, borrachas, entre outros materiais industriais e comerciais.
Junta-se a esse principio uma aproximação, ou apropriação de questões arte minimalista, ou da arte povera, onde os elementos se organizam espacialmente por composições sequenciadas, enfileiradas, ou em arranjos armados em equilíbrio, a beira do desmanche. Em alguns momentos o uso da luz artificial também surge, através de um néon, lâmpada, projetor ou até mesmo um monitor de tv. Esses elementos entram como força de empate, contrastam a matéria densa e presente dos trabalhos, como concreto e carvão, com a imaterialidade da luz, pulsante e instável.
Em sua nova individual na Galeria Zipper Felipe Seixas dá continuidade ao seu pensamento de compor no campo do tridimensional, mais uma vez o concreto surge como um dos materiais centrais para a construção das obras. Mas diferente dos trabalhos anteriores, aqui não há arranjo formal geométrico delicado, ou uma preocupação extrema de encaixe ou emparelhamento preciso de peças. O material agora é trabalhado fisicamente, surge bruto, suspenso contra a gravidade, ou cedendo à ela.
A partir do arranjo desses novos trabalhos no espaço, Felipe Seixas cria na Galeria uma paisagem em ruina, queimada, quebrada e que se reorganiza em composição para se reerguer em construção.
Na década de 1950 Barnett Newman afirmou: "Escultura é aquilo com que você se depara quando se afasta para ver uma pintura" [1]. O trabalho de Felipe propõe uma relação de flerte entre pintura e escultura, percorrer o espaço é parte essencial do trabalho. As obras se arrastam no chão, se lançam ao alto, se apoiam ou se fixam nas paredes. A escultura de Felipe não se isenta de uma discussão pictórica, mesmo que as cores empregadas nos trabalhos, sejam as próprias cores das matérias eleitas pelo artista. O negro do carvão, ou da borracha queimada existe na obra em relação a imaterialidade de luz do neon, ou da imagem pulsante de uma projeção. Como no mundo, fluxo e imobilidade se encaram.
Douglas de Freitas
[1] KRAUSS, Rosalind. A escultura no campo ampliado. Trad. Elizabeth Carbone Baez. Revista Gávea. v. 1. Rio de Janeiro, 1985, p. 87-93. v. 1. Rio de Janeiro, 1985, p. 87-93.