À primeira vista, a instalação de pinturas de Fábio Baroli na Zipper Galeria pode parecer uma abordagem naturalista de um artista que é reconhecido pela representação de cenas cotidianas do interior brasileiro e da figura humana. Na nova série de trabalhos, ele toma como ponto de partida as paisagens características da Mata Atlântica, visando uma construção poética a partir de referências de vegetações nativas do Brasil. Porém, trata-se apenas do ponto de partida: em SELVA-MATA - a primeira individual dele na galeria - Fábio Baroli usa a pintura como método para refletir sobre a ação antrópica no meio ambiente. Com texto crítico de Mario Gioia, a exposição inaugura no dia 11 de maio, às 12h.
O artista cria uma paisagem inventada no andar superior da Zipper, um site specific que expande a pintura das telas às paredes do espaço expositivo. "O intuito é estabelecer a intercomunicação, por meio da arte, entre as complexas e sensíveis relações do ser humano e suas ocupações, em seu amplo sentido de posse, ofício e lugar", observa.
Como é próprio no trabalho do artista, as pinturas revelam marcas de edição (montagens, colagens, intervenções e interrupções) que aludem à característica da editoração gráfica, revelando uma das leituras do artista em relação à ação antrópica sobre o meio natural. A escolha do tema na nova série se deu da perspectiva da redução dos espaços naturais, tendo como paradigma a drástica diminuição das áreas de Mata Atlântica ocorridas desde a colonização europeia até a atualidade. "No fundo, é uma paisagem humana, uma narrativa não linear. O olhar pode partir de qualquer ponto da instalação", comenta.
A exposição SELVA-MATA fica em cartaz até 8 de junho.
Texto crítico: Mario Gioia
Curador independente, Mario Gioia (São Paulo, 1974) é graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). Integrou o grupo de críticos do Paço das Artes desde 2011, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Luz Vermelha (2015), de Fabio Flaks, Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas. Foi crítico convidado de 2013 a 2015 do Programa de Exposições do CCSP (Centro Cultural São Paulo) e fez, na mesma instituição, parte do grupo de críticos do Programa de Fotografia 2012. Em 2015, no CCSP, fez a curadoria de Ter lugar para ser, coletiva com 12 artistas sobre as relações entre arquitetura e artes visuais. Já fez a curadoria de exposições em cidades como Brasília (Decifrações, Espaço Ecco, 2014), Porto Alegre (Ao Sul, Paisagens, Bolsa de Arte, 2013), Salvador (Fragmentos de um discurso pictórico, Roberto Alban Galeria, 2017) e Rio de Janeiro (Arcádia, CGaleria, 2016), entre outras. Em 2016, a mostra Topofilias, com sua curadoria, no Margs (Museu de Arte do Rio Grande do Sul), em Porto Alegre, foi contemplada com o 10º Prêmio Açorianos, categoria desenho. É colaborador de periódicos de artes como Select e foi repórter e redator de artes visuais e arquitetura da Folha de S.Paulo de 2005 a 2009. De 2011 a 2016, coordenou o projeto Zip'Up, na Zipper Galeria, destinado à exibição de novos artistas e projetos inéditos. Na feira ArtLima 2017 (Peru), assinou a curadoria da seção especial CAP Brasil, intitulada Sul-Sur, e fez o texto crítico de Territórios Forjados (Sketch Galería, 2016), em Bogotá (Colômbia). Em 2018, assinou a seção curatorial dedicada ao Brasil na feira Pinta (Miami, EUA) e a curadoria de Esquinas que me atravessam, de Rodrigo Sassi (CCBB-SP).