Se todos gritam, o silêncio torna-se o som mais eloquente.
A pausa sempre existe nas lacunas do discurso. O silêncio aparece graças à presença do barulho. O músico conta pausa enquanto o solista toca.
Quatro minutos e trinta e três segundos de pausa. É preciso passar pelo branco sobre branco.
Uma tela em branco nunca está em branco. Apagar deixa marca. É possível esvaziar a mente? Ou fazer pousar o ruído, como a poeira pousa? Fazer um lugar vazio. Fazer espaço. Frestas vazias. Preenche-las com branco-branco. No anteparo branco, ver o reflexo da luz das coisas.
Vento é invisível e no entanto move as coisas. Experimentar outros sons, outras palavras e outros nomes. Mas precisa de silêncio. Dormir sorrindo. Quem nasce chora, e quem morre sorri.
O mar é vivo? Nada, nada, nada, nada, nada. Repetir o nada. Respira, inspira, expira, inspira.
Um monumento ao invisível. Um som vazio e constante, sem ritmo.
Numa câmara anecoica, John Cage ouviu um som agudo e um som grave. O som agudo era o som do sistema nervoso funcionando dentro dele; o som grave era o sistema circulatório. Citando Cage, não há nada a dizer. E eu estou dizendo isso.
Silêncio.
Paula Braga