Em O absurdo e a graça, a artista Flávia Junqueira leva a fotografia encenada para a sua fonte mais primordial: o espaço de espetáculo, encenação e contemplação. Terceira individual da artista na Zipper Galeria, a exposição reúne trabalhos realizados a partir da apropriação pela artista de exemplares arquitetônicos do patrimônio histórico nacional - de teatros representativos da Belle Époque brasileira, do final do século 19, à arquitetura modernista do Pavilhão da Bienal, de meados do século 20 - nos quais ela constrói cenários ficcionais permeados por luxo e suntuosidade, ainda que de maneira irônica. Com texto crítico assinado pelo escritor Julián Fuks, a mostra inaugura no dia 12 de outubro, às 12h.
Elemento presente em todos os trabalhos, o balão é o grande personagem da série fotográfica, encarnando diversos papeis: como elemento lúdico, cria a atmosfera de regozijo própria do universo visual da infância, que permeia toda a produção de Flávia Junqueira; como metáfora da decadência, assume o papel de espetáculo perene, apenas retido pelo instante fotográfico, uma vez que a passagem do tempo torná-lo-á obsoleto, murcho, abandonado; ora os balões ocupam o lugar dos espectadores, ora, a posição da artista, em um jogo de deslocamentos; outras vezes, assumem a simbologia criadora das narrativas fantásticas, que se constituem em peças-chave nos espaços ocupados pela artista.
E, se os balões aparecem como metáforas, eles o fazem em monumentos propriamente concebidos para os atos de encenar e contemplar. A arquitetura da representação, símbolo de diversos contextos históricos brasileiros, passa a ser o ateliê da artista: Teatro João Caetano, em Niterói, construído em 1842; Teatro da Paz, Belém do Pará, de 1878; Teatro Amazonas, em Manaus, 1886; Cristo Redentor, Rio de Janeiro, 1922; Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo, 1957. "Todos estes espaços são cenários compostos por inúmeras camadas histórias, do ciclo da borracha à industrialização e urbanização do país. Meu trabalho aplica mais uma dessas camadas nos monumentos", afirma a Flávia Junqueira.
Para a abertura da individual, no dia 12 de outubro, ela planeja criar a ambientação mágica e fantástica de seus trabalhos no salão principal da galeria. O absurdo e a graça fica em cartaz até 16 de novembro.
Texto crítico: Julián Fuks
Julián Fuks (São Paulo, 1981) é escritor e crítico literário. É autor de A resistência, livro ganhador dos prêmios Jabuti, Saramago, Oceanos e Anna Seghers. É autor também de Procura do romance e Histórias de literatura e cegueira. Livros e contos seus já foram traduzidos para nove línguas e publicados em diversos países.