Zip'Up: Paisagem imaginada: Camilo Meneghetti

5 - 30 Agosto 2014

O primeiro movimento do olhar é absorver os desenhos de Camilo Meneghetti em sua totalidade, para, a seguir, reconstruí-lo por suas partes. De cara avista-se uma paisagem selvagem, indômita e talvez intocada pelo homem. O detalhamento que constrói a imagem cria pequenos oásis onde seu caráter de não-imagem ganha força. Fica para o observador a impressão de que nesses espaços, onde o mundo não está replicado, cheiros, sabores e toques são tomados como signos visuais. 

 

E então as coisas começam a mudar. Onde se viam florestas a impressão de caos urbano se impõe, onde estavam as paisagens agora surgem representações sinestésicas do mundo. Só então se percebe que nenhuma imagem imita o mundo, há apenas o papel e o depósito de materiais sobre ele.

 

O artista parece chamar a atenção para os materiais de seus desenhos, retirando assim o observador da representação fiel do mundo para jogá-lo no universo sensível compartilhado por artista e público. Esses desenhos são mais do que retratos ou paisagens, são reflexos de um universo transposto para o papel em por um movimento quase escultórico. Dos detalhes paulatinamente apresentados pelo artista notam-se índices sobre sua fatura, e mais: índices sobre a harmonia desencontrada do mundo.

 

Camilo ataca o papel criando uma massa, um volume negro que se desfaz diante do olho e gera a sensação de se estar diante de uma paisagem. Uma que só pode ser vista pela imaginação de quem olha. O artista está desbastando o desenho, como fazem os escultores. Retirando camadas de matéria (grafite) e implantando imagens, sensações, sabores, cheiros etc. É um processo escultórico do desenho que se faz entender no desencontro dos códigos visuais para expandir o olhar para todos os sentidos humanos.

 

Paulo Gallina

(29.07.2014)