Solilóquio, terceira exposição individual de Camille Kachani na Zipper Galeria, se estrutura a partir de diálogos: primeiro, do artista consigo próprio, como o título da mostra sugere (um ato de verbalizar, em primeira pessoa, aquilo que se passa na consciência do anunciador); segundo, do artista com diversos momentos da arte contemporânea, estabelecendo relações entre as produções de Kachani e a de outros artistas; por fim, da natureza com a civilização, aqui numa revisão crítica em relação a, muitas vezes, este diálogo ser simplesmente impossibilitado. Com curadoria de Taisa Palhares, a mostra inaugura no dia 5 de setembro e reúne nova série de esculturas relacionadas a processos de transformação e deslocamentos.
Em sua exposição anterior na galeria - Encyclopaedia Privata, 2016 -, Camille Kachani partiu da memória para refletir sobre a formação da identidade. Agora, esta reflexão é expandida: em que ponto nos situamos entre sermos entes tecnológicos e entes pertencentes à natureza? "Os materiais e soluções estéticas utilizados parecem ecoar a incompatibilidade entre preservação e exploração dos recursos disponíveis. Esta série de trabalhos, revela a impossibilidade de diálogo entre a civilização e a natureza. Esta cisão, mesmo que não absoluta ou definitiva, evidencia o profundo antagonismo de interesses entre estes polos", analisa o artista.
Em Solilóquio, procedimentos diversos são aplicados nas esculturas, de modo a incitar os debates propostos pelo artista. A organicidade da madeira é substituída pela racionalidade formal; a geometria dos cubos ganha a distorção dos seres viventes; ícones da pintura ocidental são atravessados por formações orgânicas, como se elas próprias contivessem o germe de sua destruição. Aqui, o fio condutor não é plástico, mas conceitual: das formas improváveis que adquire a madeira, tudo aponta para uma equação em aberto, em que a busca por um denominador comum permanece como uma pretensão ilusória, ainda que necessária.
A exposição Solilóquio fica em cartaz até 5 de outubro.
Sobre o curador
Taisa Palhares é professora de Estética no Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp). Possui graduação (1997), mestrado (2001) e doutorado em Filosofia (2011) pela Universidade de São Paulo (USP). Realiza estudos nas áreas de estética e artes visuais, com ênfase na pesquisa sobre a fundamentação da obra de arte desde a Modernidade. De 2003 a 2015, foi pesquisadora e curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo, sendo responsável pelo projeto de exposição retrospectiva Mira Schendel (2013/2014), em parceria com a Tate Modern. É autora do livro Aura: a crise da arte em Walter Benjamin (Fapesp/ ed. Barracuda, 2006). Desde 2000, atua como crítica de arte, e foi uma das idealizadoras e co-editoras da revista independente de arte e crítica Número (2003-2010).