Será que a arte e a matemática estão em lados tão opostos quanto parece? Separamos três artistas que podem te convencer do contrário. Olafur Eliasson, Roman Opalka e Daniel Mullen são alguns exemplos de artistas contemporâneos que entenderam que a percepção da cor está diretamente ligada à nossa percepção da realidade. Eles partem de estudos científicos ou sistemáticos para propôr relações conceituais e experiências poéticas.
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Olafur Eliasson
Já pensou se ver fisicamente em preto e branco? Eliasson é um artista dinamarquês-islandês conhecido por suas grandes instalações que investigam a relação entre as respostas fenomenológicas, o espectador e o espaço.A obra “Room for one color” (1997), por exemplo, é composta por uma sala com lâmpadas de monofrequência que emitem uma luz de cerca de 589 nanômetros de comprimento de onda, na região amarela do espectro visível. Isso quer dizer que, a princípio, você vê apenas uma luz amarela saturada que faz com que todas as cores pareçam tons de amarelo, cinza e preto, provando que a cor e a consciência sobre ela não são coisas fixas, assim como todos os aspectos de nossa realidade são relativos.
A grande chave da produção de Eliasson não consiste em um truque ou em uma pesquisa puramente científica. Afinal, na maior parte das vezes, os artifícios que tornam suas obras possíveis não são ocultados, de forma a tornar explícita a construção daquela realidade. Seu foco está no espectador e na experiência sensorial imersiva que ele pode vivenciar.
“Room for one color” (1997) - Olafur Eliasson
Roman Opalka
Roman Opalka em frente a sua obra "1965/1–∞"
Opalka foi um pintor polonês nascido na França, cuja obra de maior destaque foi desenvolvida durante mais da metade de sua vida e não pode ser finalizada como idealizou inicialmente. Trata-se da obra "1965/1–∞", iniciada em 1965, quando o artista pintou o algarismo “1” com tinta branca sobre uma tela de fundo cinza, e continuou a sequência – 2, 3, 4, 5 – todos os dias, até o final de sua vida. Aos poucos, ao fazer a cor de fundo de cada tela, ele foi adicionando uma porcentagem de branco maior do que a de preto.
Em paralelo, ele se autofotografava, também diariamente, e recitava os números para um gravador após a conclusão de cada tela. O resultado do conjunto de imagens, mostra que, à medida que os cabelos dele se clareavam com a idade, as fotos se aproximam de uma composição de "branco sobre branco", assim como as telas. Ou seja, de maneira extremamente mecânica, ele conseguiu capturar a cada dia a progressão do tempo e seus desdobramentos na vida.
Registro da obra "1965/1–∞" de Roman Opalka
Opalka veio a falecer às vésperas de completar 80 anos, tendo chegado a registrar o número 5.607.249. Apesar de extenso, a marca não correspondia à sua expectativa original, já que pretendia chegar ao menos até 7.777.777.
Daniel Mullen
Mullen é um artista escocês, representado pela Zipper, cujas pinturas abstratas, por vezes, parecem ser concebidas digitalmente devido ao seu efeito óptico causado pelas camadas minuciosas e translúcidas de tinta.
Na exposição “Dentro do (in) visível”, em cartaz na Galeria até o dia 14 de janeiro de 2023, o artista apresenta uma série de pinturas inéditas que possuem um padrão geométrico repetido incessantemente. Essa técnica, somada aos tamanhos amplos das telas são convidativas para mergulharmos pouco a pouco, camada a camada, em seu universo. Em entrevista o artista já exclamou: “Minha pintura é um portal para que o espectador mergulhe em uma experiência sensorial. Quero que ela seja um lugar de reflexão.”
As intervenções feitas especialmente para as entradas de luz do espaço expositivo também contribuem para o efeito aurático, libertando-o das telas para o redor dos visitantes.
Vista da exposição “Dentro do (in) visível” de Daniel Mullen, na Zipper Galeria
Serviço:
Dentro do (in) visível
Endereço: Rua Estados Unidos, 1494
Visitação: Até 14 de janeiro de 2023.
Horários: Segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 11h às 17h.
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