Flávia Junqueira é amplamente conhecida por fotografar patrimônios históricos preenchidos com balões de gás hélio, concebendo cenas que combinam o real com o fictício, o presente com o passado, o adulto com a criança. Como seria imergir nesse universo?
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O universo paralelo de Junqueira
Talvez você já tenha se imaginado adentrando o lúdico universo de Flávia Junqueira, ao acessá-los pela janela da fotografia. As grandes imagens parecem dominar toda a nossa vista possibilitando um fácil mergulho para dentro da nova realidade. Mas a presença humana dentro delas também pode parecer muito destoante dos personagens que elas apresentam, afinal os grandes teatros trazidos pela artista são ocupados não por atrizes e atores, mas por balões que são, ao mesmo tempo, espectadores e protagonistas do espetáculo.
O envolvente estranhamento não pára por aí: há um enorme contraste no cruzamento de temporalidades do patrimônio histórico e dos efêmeros balões de látex comumente associados às celebrações de contagem do tempo – os aniversários. Cada balão é gentilmente ajustado na composição fortemente pictórica. Mas ao contrário de uma criação em pintura, a artista nunca começa numa tela em branco, há sempre uma base arquitetônica da qual emerge todo restante da produção, como numa colagem. Os elementos precisamente aplicados ressaltam a aura de impecabilidade beirando o artificial. Antes de cada clique o silêncio e a tensão pairam no ar que mal se move. Apesar de tudo ter sido encenado para o registro, tudo existe no plano concreto. Tudo é ali é real?
Salto ao vazio
Registro do processo de criação do projeto “Leap into the void” no Opera Liceu Barcelona. Cortesia da artista.
A arte tem uma poderosa virtude de te transportar para novas realidades, proporcionar respiros em meio ao caos e criar o que ainda não existe. Mas essa característica possui uma camada de contradição quando percebemos que é também essa mesma arte que nos conecta profundamente com a vida que já conhecemos sendo um motor de transformação da mesma.
Foi pensando nessa potência que o Opera Liceu Barcelona, uma das casas de ópera mais importantes do mundo, convidou a artista Flávia Junqueira para compor a Programação de Arte Contemporânea deste ano sob a temática “Leap into the void” (em tradução livre: “Salto ao vazio”). Não à toa, os cenários coloridos da artista parecem se encaixar tão bem na proposta. Suas obras são um chamado de esperança. O pleno equilíbrio entre a ludicidade e a aventura acende as memórias da criança que habita em nós e nos instiga a adentrar a realidade desconhecida para criar novas possibilidades.
A própria construção do trabalho, partindo do mapeamento dos teatros, também é baseada no espírito infantil de curiosidade e de deslocamento de significado do espaço. Enquanto o adulto, inserido na lógica de produção, atribui funcionalidade a tudo o que o cerca, a lógica da arquitetura escolhida por Junqueira é totalmente antifuncional: palco, plateia e estrutura são absolutos ornamentos.
Fique por dentro
Apesar de toda essa atmosfera fantasiosa, a possibilidade de imergir nas instalações de Junqueira será, pela primeira vez, realidade para muitos. Nesta semana o Opera Liceu abriu ao público a mais nova instalação da artista sob patrocínio da Hermes e Qualatex.
As novidades são muitas! A catalogação de teatros históricos que acontecia, até então, em território nacional, faz sua estreia na Europa. A disposição dos elementos que antes encenavam para a câmera objetivando uma imagem bidimensional, agora é lançada ao desafio de preencher o espaço de mais de dois mil assentos.
O trabalho se desdobra também em uma exposição, que será inaugurada no próximo dia 26 no salão nobre do Opera, trazendo fotografias produzidas no próprio espaço, além de um vídeo do processo de criação.
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