Seis obras icônicas no acervo da Zipper Galeria

Conheça obras de Luiz Zerbini, Leonilson, Carlos Cruz Diez, Victor Vasarely, Manabu Mabe e Vik Muniz
April 17, 2025
Seis obras icônicas no acervo da Zipper Galeria


Entre descobertas no frescor da chamada “nova arte contemporânea” e
redescobertas no passado já consolidado, o acervo da Zipper Galeria costura produções que abrem caminhos e outras que ajudam a compreender o terreno que pisamos. Talvez você ainda não saiba que a Zipper, que sempre foi conhecida como um espaço de descobertas e lançamentos de novos talentos, também abriga obras de nomes que marcaram a história da arte moderna e contemporânea. Por isso, separamos seis das obras que constituem o acervo de mercado secundário da galeria para você conhecer a seguir.


Conteúdo do artigo:

 

 

Luiz Zerbini, Sem Título, 2006

 

Na pintura a óleo, Luiz Zerbini (1959) retrata um vasto campo verde sob um céu nublado por trás de uma estrutura de linhas horizontais e paralelas que sugerem uma grade ou persiana – o que faz da peça uma espécie de janela que intermedia o nosso espaço, enquanto espectadores, e o espaço através dela (a cena pictórica). A linha do horizonte, somada à fresta vertical no centro, divide a imagem em quatro blocos proporcionais, que reforçam o rigor geométrico da composição feita por pinceladas à mão. O olhar, ao se mover diante da obra, é instigado a buscar brechas e a recompor a imagem fragmentada. 

 

O vazio na paisagem se contrapõe com a exuberância orgânica habitual em grande parte da produção do artista. Essa ausência ainda é reforçada pelo título – ou pela falta dele. Sem nome, a obra se despe de qualquer orientação narrativa e se torna campo de silêncio, aberta às projeções de memórias e pensamentos de quem a contempla.

 

Leonilson, Macaco, 1989

 

Segundo Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP e amigo pessoal do artista, 1989 foi um ano vital para Leonilson (1957-1993) – um momento de dedicação intensa ao desenho. Leonilson foi uma pessoa que, em um curto período de vida, com poucas linhas, gestos mínimos e por vezes miúdos, conseguiu criar uma linguagem muito própria. Viajante ávido, ele encontrou nesta linguagem – seja feita com caneta sobre papel ou bordada sobre tecido – uma forma de continuar criando mesmo longe do ateliê e dar continuidade ao seu “diário” em forma de pesquisa poética visual. 

 

Em “Macaco” (1989) – obra que integrou a exposição “Leonilson e a Geração 80”, apresentada na Pinakotheke do Rio de Janeiro em 2023 – o animal é esboçado com linha preta pontilhada entre botões dispersos. A figuração modesta é seguida da palavra “macaco”, também bordada, como no impulso infantil de apontar e nomear o mundo que se vê. Em sua prática diarística visual, Leonilson incorporava elementos triviais do cotidiano, sem hierarquizá-los. Poderia ser algo visto na televisão, numa revista, numa lembrança ou ao vivo – a origem pouco importa; o que interessa é o traço como vestígio de presença, como anotação sensível de um instante qualquer.

 

Carlos Cruz Diez, Sem título, 2007

 

Nas obras de Carlos Cruz Diez (1923-2019) não há distinção entre figura e fundo, e nem repouso visual. O jogo óptico formado pelas linhas verticais em alumínio e PVC transformam a obra diante de nossos olhos a cada segundo a partir do nosso movimento. Se vista de frente, a obra se apresenta quase monocromática em tons de dourado, mas, com o deslocamento do nosso corpo em torno dela, diversas camadas tonais se revelam vibrantes em azul, laranja e verde. 

 

Na pesquisa pioneira de Cruz Diez, a cor deixa de ser um elemento subordinado à representação e passa a existir por si, tomando corpo por meio de estruturas que a faz vibrar, se mover ou transformar diante do nosso olhar – essa dinamicidade é o que o artista chamava de “realidade cromática autônoma”. As obras de Cruz Diez, como esta de 2007, são pontos centrais na história arte cinética, tendo mudado o curso da modernidade europeia, a relação entre obra e espectador e a percepção da matéria artística, além de abrir caminhos para a arte fenomenológica, que continua a influenciar gerações de artistas até hoje.

 

Victor Vasarely, ION 6-6, 1967

 

Victor Vasarely (1906-1997) foi um dos principais nomes da arte cinética na segunda metade do século XX. Em “ION 6-6” (1967), a repetição de cubos coloridos pintada em têmpera – uma técnica baseada na mistura de pigmento com um aglutinante à base de água e, normalmente, gema de ovo – conduz o olhar para o centro da tela e, a partir dele, de volta para as extremidades. As cores se articulam em módulos regulares, mas as diferenças tonais conotam profundidade e movimento, como se o centro da obra colapsasse para dentro de si. A imagem vibra, oscila, perturba o olhar. Não há uma narrativa a seguir, nem uma figura a ser reconhecida, o próprio fenômeno visual é o assunto central da obra. 

 

Vasarely buscava democratizar a arte por meio da racionalidade e da repetição, acreditando que um sistema visual evidente e replicável poderia atingir todos os públicos, independentemente de sua expertise em arte. Nesse sentido, a experiência da obra se dá no corpo do observador: nos olhos que duvidam do que veem e na mente que tenta reorganizar o padrão.

 

Manabu Mabe, Mar e Carnaval, 1983

 

Manabu Mabe (1924-1997) ganhou grande reputação no circuito artístico ao elaborar uma linguagem pictórica bastante gestual, atmosférica e expressiva, em meio às primeiras investigações de arte abstrata no Brasil. O artista de origem japonesa desenvolveu ao longo dos anos um corpo de trabalho que, embora associado à abstração lírica, sempre insinuava um elo entre a figura e a desintegração dela. “Mar e Carnaval” (1983) é um exemplo disso. 

 

Na tela, Mabe esboça uma silhueta humana, mas a dissipa no fundo branco. Se fundindo à ela, uma ebulição de manchas e traços coloridos no centro da imagem ordenam um movimento centrífugo e fugaz. Aqui, a referência ao carnaval não é explícita em formas e alegorias diretas; ao contrário, o artista se atém às qualidades sinestésicas provocadas pela folia: a vertigem, o colapso e a energia que excede. A força do mar – elemento também citado no título – se move como a da festa: flui e arrasta, faz surgir e desaparecer imagens. São energias impalpáveis, capturadas pelo interesse do artista. 

 

Vik Muniz, Romy Schneider, 2004

 

Vik Muniz (1961) é conhecido por uma produção gestaltista, que parte do manuseio de materiais inusitados, como chocolate, açúcar, lixo e diamantes, para criar retratos. Esses materiais são organizados em composições que muitas vezes reencenam obras canônicas da história da arte ou imagens populares do imaginário coletivo. Mas essas criações não são feitas para permanecerem a longo prazo, elas existem apenas temporariamente no espaço físico e só são eternizadas quando fotografadas. É na fotografia que Muniz sela as camadas conceituais sobre representação e reflete sobre a fabricação da imagem na cultura de massas.

 

Nesse sentido, “Romy Schneider” (2004) é uma homenagem do artista à atriz franco-alemã, para a qual o artista utilizou uma profusão de brilhantes sobre um fundo negro. O retrato só se revela à distância: o rosto surge lentamente entre os reflexos.