Seja com estruturas leves e delicadas ou materiais de forte presença, toda escultura propõe uma interação com o ambiente e muda nossa percepção do espaço em que estão inseridas. Abaixo, confira sobre as obras de Gustavo Rezende, Ana Holck, Consuelo Veszaro, Janaina Mello Landini e Marco Tulio Resende, artistas da Zipper Galeria que, em abordagens e poéticas distintas, repensam a relação entre forma, espaço e significado.
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Ana Holck, Axioma I, 2024
Porcelana e aço | 80 x 33 x 62 cm
A obra de Holck é composta por fitas de aço inox arqueadas que se projetam a partir da parede e, apesar de fixadas e imóveis, expressam forte dinamismo, criam um movimento contínuo e sugerem órbitas ou sistemas dinâmicos. A porcelana, com suas qualidades terrenas e disposta em formas retangulares, transmite uma estabilidade contrastada com o aço, que por sua vez é marcado por cortes precisos e um brilho frio característico do fabril.
Axiomas, conceito que intitula esta série de trabalhos, são premissas incontestáveis ou fundamentais, que servem de base para sistemas complexos, como acontece na matemática ou na lógica. Nesse sentido, a peça pode ser interpretada como uma representação visual de um "axioma", que questiona e reafirma princípios básicos da escultura e do espaço, e reflete sobre as leis que regem a interação entre matéria e forma, como gravidade e peso, proporções e volumes.
Consuelo Veszaro, Sem título, 2024
Bronze | 85 x 75 x 55 cm
A escultura de Consuelo pauta questões centrais do desenho enquanto linguagem, reduzida a seus elementos primordiais: ponto, linha e plano. Para esta obra, a artista utiliza o bronze para criar uma estrutura rígida e estável, que ao mesmo tempo se mantém erguida no espaço em um formato orgânico e elegante. Trabalhando dentro de uma poética abstrata, Veszaro instiga o observador a perceber relações entre peso, compensação e espaço, incluindo no diálogo até mesmo os vazios entre a matéria. A obra sugere movimento e organicidade de um equilíbrio instável provocado pelas forças invisíveis que a estruturam.
Gustavo Rezende, Splash, 2021
Bronze e pátina | 36 x 74 x 64 cm
Como arquiteto de formação, a influência do pensamento arquitetônico e da paisagem urbana no trabalho de Gustavo Rezende é evidente em seus trabalhos, e em “Splash” não é diferente. A escultura se baseia numa linguagem bem-humorada e de ilusão para sugerir o instante de um corpo atravessando uma superfície sólida, como se o chão se transformasse em uma forma líquida que espirra ao contato. A escolha dos metais para materialização da obra reforça o contraste entre o peso físico da escultura e a fluidez que ela sugere visualmente.
Esta obra monocromática faz parte da pesquisa do artista, que nos últimos anos passou das explorações em formas abstratas para representações figurativas, incorporando seu próprio corpo como modelo.
Janaina Mello Landini, Ciclotrama 362 (célula piramidal), 2024
Fios de alumínio | 140 x 80 cm
A escultura, feita com fios de alumínio entrelaçados, evoca, à primeira vista, a silhueta de uma árvore, de modo que suas raízes e galhos possuam proporcional protagonismo. Mas, para um olhar mais atento, essas estruturas finas e entrelaçadas também remetem à redes de células neuronais, cujo desenho a artista teve inspiração nas pesquisas do neurocientista Santiago Ramón y Cajal. O equilíbrio quase simétrico entre a copa e as raízes enfatiza ponderações sobre dualidades: o que está acima e o que está abaixo, o visível e o invisível, o natural e o fabricado. Com muita delicadeza, a artista transforma a rigidez do alumínio – matéria de expressão industrial – em contornos orgânicos, que compõem o desenho suspenso no espaço.
Marco Tulio Resende, Série: Ecce Homo, 2015/2018
A peça Marco Tulio Resende, com dimensões de 43 x 26 cm, tem como característica mais acentuada suas texturas e tonalidades terrosas, além da presença do óxido de ferro, consequentes da técnica de barreado, que consiste na diluição de solo argiloso em água.
"Ecce Homo" também é o nome de um dos livros mais conhecidos de Friedrich Nietzsche, publicado em 1888. Nele, o filósofo reflete sobre sua vida e obra, e questiona valores morais e religiosos dogmáticos. A expressão, retirada de uma passagem bíblica cristã, significa "Eis o Homem" e é atribuída a Pilatos ao apresentar Jesus à multidão.
Usando matérias-primas naturais como a argila, o artista parece trazer à tona um "homem" cru, essencial, expondo a condição humana em sua materialidade mais básica. A obra dialoga com ideias de construção, destruição e a fragilidade das estruturas humanas e sociais, refletindo sobre o efêmero e o precário no que sustenta nossas existências.