Ivan Grilo é um artista cujo trabalho se move entre o íntimo e o coletivo, equilibrando proposições de sensibilidade afetiva com camadas políticas e sociais, e frequentemente perpassando questões ligadas à passagem do tempo. Atualmente suas obras compõem acervos de grandes instituições nacionais e internacionais, como MAM, em São Paulo, MAM e MAR, no Rio de Janeiro, MoMA e Guggenheim, em Nova York. Depois de ter participado do projeto expositivo Zip’Up, onze anos atrás, o artista agora retorna à Zipper Galeria como artista representado.
Conheça os bastidores por trás de cerca de vinte anos de produção de Ivan Grilo.
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Origens e inserção no circuito de arte
Natural de Itatiba, em São Paulo, Ivan Grilo completou sua graduação em artes visuais pela PUC-Campinas e iniciou sua carreira atuando como artista-assistente por três anos. Sua produção autoral passou a ganhar maior notoriedade no início da década de 2010, realizando suas primeiras exposições individuais de notoriedade no circuito.
Neste período, o artista produzia obras em diferentes linguagens, sobretudo baseadas na fotografia e na instalação. Interessado por conhecer mitos e acontecimentos que revelam as construções sociais e culturais de nosso país, aos poucos Grilo foi se aprofundando em suas pesquisas, que foram tomando proporções maiores e envolvendo viagens para a apuração. Mas foi em 2013 que sua trajetória profissional teve uma grande virada. Naquele ano, Grilo expôs em grandes instituições de arte brasileiras, como a Casa França Brasil, no Rio de Janeiro, no MASP e na Zipper Galeria, em São Paulo.
Conceitos e pesquisas
A passagem do tempo é uma questão central na produção artística de Ivan Grilo, permeando diferentes fases de seu trabalho. No início de sua carreira, essa característica é evidente em técnicas do artista de "apagamento das imagens", nas quais ele sequenciava uma fotografia com placas acrílicas ou superfícies jateadas, permitindo que a imagem original gradualmente desaparecesse. Essas técnicas simbolizavam a transitoriedade e a efemeridade, temas que continuam a ecoar em sua obra até hoje, revelando um interesse contínuo em explorar as marcas deixadas pelo tempo.
Ivan Grilo Vamos deixando as coisas aos poucos, permitindo que desapareçam, 2012
Na obra “Mais um dia”, Grilo trata da passagem do tempo de forma quase performática ou ritualística. A instalação composta por uma placa de acrílico com um nascer do sol estampado é acompanhada de jornais do dia, trocados diariamente.
Ivan Grilo, Mais um dia, 2016
Outro conceito fundamental na pesquisa de Ivan Grilo é a combinação entre o político e o afetivo, um entrosamento que se manifesta, por exemplo, na série “Escribe una Carta de Amor”, de 2018, que foi incorporada ao acervo do Pérez Art Museum Miami. Nesta, Grilo gravou frases retiradas de cartas de amor — sejam elas famosas ou anônimas — em placas de bronze. Isoladas do contexto original, essas citações ganham novas camadas de interpretação, por vezes assumindo um tom político, como é o caso da “Poderemos suportar um tempo assim de novo?”, que insinua uma reflexão sobre os desafios de nossa época.
Nos últimos anos, esta produção de frases registradas em placas metálicas se popularizou, especialmente nas redes sociais. Ao escolher palavras — algo etéreo e efêmero — e gravá-las em bronze, o artista realiza uma espécie de transmutação simbólica, transformando o abstrato em algo concreto, firme e duradouro. A durabilidade do bronze, com sua resistência ao tempo, supera até mesmo a matéria humana, perpetuando essas palavras e seus significados através das gerações.
Novas obras e participação na SP–Arte Rotas Brasileiras 2024
Ivan Grilo, “Confundo Céu e Mar”, 2024
Na terceira edição da SP–Arte Rotas Brasileiras, que ocorre entre 28 de agosto e 01 de setembro, Ivan Grilo apresenta no estande da Zipper Galeria as pinturas “Confundo Céu e Mar” e “Confundo céu e mar (#2 catedral)”, e o tríptico “Aceitar, merecer, honrar”, ambos trabalhos inéditos do artista.
Para a elaboração das duas primeiras, o artista parte de uma imagem fotográfica que ele fez em 2017, no Ceará. Inspirado pelo céu do Rio de Janeiro em 1889, que por sua vez foi referência para parte da confecção da bandeira do Brasil, Grilo criou em “Confundo Céu e Mar” uma sequência de quatro representações da mesma cena, com oscilações de maré, cores e intensidade no brilho das estrelas. Essas mudanças sutis, perceptíveis apenas àqueles que dedicam um tempo maior à contemplação desta vista, estabelecem um paralelo com a construção da intimidade, que também se revela e se aprofunda com o tempo.
Ivan Grilo, “Confundo céu e mar (#2 catedral)”, 2024
Nesta pesquisa também é evidente o tensionamento de questões formais da pintura, como a fusão de céu e mar em um só plano, como também o aspecto bruto do gotejamento de tinta para a representação das estrelas, que acabam se afastando de um tratamento mais naturalista e se aproximando mais da abstração.
Ivan Grilo, “Aceitar, merecer, honrar”, 2024
Já o trio de placas de bronze, lido em sequência, forma uma espécie de mantra: “Aceitar os Milagres. Merecer os Milagres. Honrar os Milagres”. Essas frases não se restringem à voz do autor, pelo contrário, ao convidar o público a lê-las, Grilo transfere a posição de locutor para o espectador, fazendo com que este seja uma peça fundamental para a ativação da obra.