Conheça 3 técnicas fotográficas históricas presentes na obra de André Feliciano

O artista faz uso de procedimentos como Impressão Salgada, Viragem e Coloração Manual, em obras contemporâneas
July 12, 2024
Vista da exposição “O Ateliê Fotográfico de André Feliciano” na Zipper Galeria
Vista da exposição “O Ateliê Fotográfico de André Feliciano” na Zipper Galeria

 

Por trás dos trabalhos coloridos e lúdicos de André Feliciano, artista paulista representado pela Zipper Galeria, há uma trama de diferentes temporalidades de técnicas fotográficas se cruzando. O artista, que frequentemente cria uma metalinguagem sobre a própria linguagem fotográfica, transforma essas experimentações em um diálogo entre o passado e o presente. 


Inicialmente atraído pelos fotogramas coloridos, Feliciano explorava a impressão química no filme cinematográfico utilizando diversas fontes de luz, incluindo a luz natural do sol e a de vagalumes. Em suas criações mais recentes, o artista combina métodos centenários com outros populares na contemporaneidade em um único trabalho. Ele pode começar, por exemplo, com um registro digital que é impresso em papel utilizando a técnica de impressão salgada – uma das primeiras formas de impressão da história fotográfica – e, em seguida, dar um banho de platinum. A imagem é então recapturada com uma antiga câmera de fole, cujo filme é escaneado para produzir um grande negativo que, por sua vez, é usado para transferir a imagem para uma tela. Por fim, Feliciano ainda conclui sua peça com uma coloração manual feita com tinta a óleo. 


Neste artigo, faremos uma breve viagem pela história da fotografia, explorando três técnicas tradicionais incorporadas no trabalho do artista: Impressão Salgada, Viragem e Coloração Manual.

Conteúdo do artigo:

 

 

Impressão Salgada

Além das impressões em jato de tinta, que surgiram no final do século XX e ainda são comuns entre fotógrafos profissionais e consumidores saudosos que querem ter suas imagens guardadas em álbuns de família e decorações domésticas, Feliciano também incorpora em seus processos criativos algumas técnicas mais antigas de impressão, como a Impressão Salgada. 


Inventada por William Henry Fox Talbot, em cerca de 1839, esta foi uma das primeiras técnicas de impressão fotográfica. Ela é considerada um processo fotográfico de impressão direta, pois ocorre por contato. Ou seja, depois de sensibilizar uma folha de papel com uma solução de sal comum e nitrato de prata, um objeto ou uma transparência é colocado sobre ela e exposto à luz. O resultado é uma imagem positiva, que aparece onde a luz atingiu o papel. 


As Impressões Salgadas foram populares na fotografia do século XIX até serem substituídas por métodos mais avançados.

 

Viragem


André Feliciano, Jantar para Philippe Dubois 1, 2024


Você provavelmente já viu alguma fotografia antiga que não era nem cem por cento preta-e-branca, mas também não era colorida, e sim de um tom rosado, como um sépia, não é mesmo? Esta estética vem de um processo chamado "viragem", uma técnica que surgiu no final do século XIX, destinada a alterar a tonalidade das fotografias em preto e branco. Este procedimento envolve o mergulho da fotografia em dois banhos químicos para a substituição dos sais de prata da imagem original por outros compostos metálicos, como o selênio, ouro, platina ou cobre, resultando em uma gama variada de tonalidades, desde laranja até azul, dependendo do metal utilizado. No caso do trabalho de Feliciano, o “banho de platinum” é o mais utilizado, conferindo uma tonalidade metalizada para suas imagens. 

 

Coloração Manual


André Feliciano, Flores para Vilém Flusser 1, 2023


A coloração manual é outra possibilidade para adicionar cores a fotografias em preto e branco. Esta se dava com artistas que aplicavam tintas à base de óleo, aquarela ou outros pigmentos diretamente sobre as impressões fotográficas.

A técnica existe desde a invenção dos daguerreótipos – as primeiras caixas fotográficas a serem anunciadas e comercializadas ao grande público, a partir de 1839 –, tem seus primeiros usos atribuídos ao pintor e gravador suíço Johann Baptist Isenring, que usou uma mistura de goma arábica e pigmento.


Variações dessa prática foram patenteadas na Inglaterra por Richard Beard em 1842 e na França por Étienne Lecchi no mesmo ano, e por Léotard de Leuze em 1845. A coloração manual continuou a evoluir com o desenvolvimento de novos processos fotográficos, mas acabou se dissipando com a popularização da fotografia colorida na metade do século XX.