Desde os povos originários, cujas produções artísticas são indissociáveis da natureza, até os colonizadores, que retrataram nossas paisagens exuberantes para fins de pesquisa e exploração, o Brasil, com sua vasta extensão territorial e biodiversidade abundante, sempre foi uma fonte inesgotável de inspiração para artistas do mundo inteiro. E hoje em dia não é diferente.
Neste artigo, exploraremos como a riqueza natural brasileira impactou a produção de três artistas contemporâneos: Frans Krajcberg, Camille Kachani e Marcelo Tinoco. Com pesquisas completamente distintas, o trio deu origem a obras que não apenas exaltam o nosso ecossistema, mas também perpassam reflexões críticas, conceituais e até mesmo ativistas.
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Frans Krajcberg
Obra de Frans Krajcberg na 32ª Bienal de São Paulo. Foto: Leo Eloy/ Estúdio Garagem/ Fundação Bienal de São Paulo
Conhecido especialmente por suas esculturas em madeira calcinada, Frans Krajcberg foi um artista pioneiro na defesa dos biomas de nosso país. Nascido na Polônia, em meio aos horrores da Segunda Guerra Mundial que levou toda a sua família, ele encontrou refúgio e inspiração para seus trabalhos nas paisagens tropicais do Brasil, onde viveu desde a década de 1940 até seu falecimento em 2017.
Coletando troncos e raízes queimados pelos incêndios que derrubam densas áreas verdes para serem transformadas em pasto, Krajcberg fez enormes instalações, pintadas sempre de vermelho e preto. As tradicionais cores, somadas ao histórico dos materiais, denunciam “fogo e morte”, como dizia o artista.
Seu ativismo se estendia para além de suas obras plásticas, fazendo-o dedicar sua vida por completo à causa do desmatamento. Dentre diversas contribuições, vale destacar o Manifesto do Naturalismo Integral, uma das primeiras manifestações públicas contra o desmatamento da floresta amazônica, escrita por Krajcberg ao lado do crítico Pierre Restany e o artista Sepp Baendereck, durante uma viagem de 32 dias do trio pelo Rio Negro, em 1978.
Camille Kachani
Camille Kachani, Trompete-árvore, 2022
Camille Kachani também é um artista estrangeiro que fincou raízes no Brasil e floresceu sua produção aqui. Nascido no Líbano, o artista representado pela Zipper Galeria se debruça sobre a investigação das diferenças e aproximações entre aquilo que seria “natural” e aquilo que é “criado” pelo ser humano.
Hoje, Kachani é reconhecido por suas esculturas metamórficas que combinam a representação de elementos da natureza, como galhos, folhas e flores, com objetos que simbolizam a cultura poética e banal, como livros, instrumentos musicais, utensílios domésticos e outros. Diante desses trabalhos é difícil de saber o que foi manipulado pelo artista e o que foi apropriado. Da mesma forma, não é possível saber em que fase desse ciclo de mutações o objeto se encontra. Em outras palavras, o artista deixa para o espectador interpretar e concluir se o objeto está voltando a ser matéria prima da natureza, ou se o elemento natural está tornando-se objeto, ou ainda se esta aparência dúbia é seu estado final, sendo as duas naturezas indissociáveis.
Marcelo Tinoco
Marcelo Tinoco, Jardim Impressionista, 2023
O artista paulistano que também compõe o time de representados pela Zipper Galeria é conhecido por elaborar imagens multicoloridas feitas a partir de colagens e pinturas digitais. Atualmente, Marcelo Tinoco está com uma exposição em cartaz no Centro Cultural FIESP, em São Paulo, chamada “Natureza Viva”, onde é possível encontrar doze peças provenientes de sua pesquisa sobre a representação de paisagens naturais.
Na mostra curada por Nancy Betts, Tinoco traça paralelos entre a arte clássica e contemporânea, criando releituras de ícones da história da arte europeia, atualizadas em suas cores e tratamentos. Como exemplo, podemos observar a obra “Jardim Impressionista”, concluída em 2023, que faz uma referência clara às pinturas de Claude Monet, não apenas por citar o movimento artístico em que ele se insere no título da obra, mas especialmente pelo tema da imagem. Retratando a ponte que inspirou várias cenas do pintor francês, como “A Lagoa de lírios d'água”, “Nenúfares e Ponte Japonesa” e “A ponte japonesa sobre a lagoa das ninfeias em Giverny”, o brasileiro a atualiza com cores vibrantes – distante da paleta de tons suaves e frios do pintor francês – e insere elementos de referência aos jardins modernistas de Burle Marx.
Serviço:
“Natureza Viva”
Local: Centro Cultural FIESP
Período expositivo: até dia 13 de outubro de 2024.
Entrada gratuita