Em ocasião do Dia da Mulher, celebrado no dia 08 de março, listamos quatro perspectivas feministas, representadas em quatro respectivas obras de arte contemporânea para você conhecer. As artistas presentes aqui têm em comum suas abordagens provocativas para reivindicar seus espaços na cena artística, perpassando questões relacionadas ao corpo da mulher.
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Monica Piloni
Monica Piloni - Selfie (2022)
A curitibana Monica Piloni, artista representada pela Zipper Galeria, brinca com a multiplicação e subtração em seus processos criativos. A começar pelo fato de que, por muito tempo, ela esculpia a partir do molde de seu próprio corpo, ou seja, criando seu próprio duo. O que caracteriza suas criações são as mutações nos corpos que apresentam os membros e seios duplicados, cabeças faltantes, entre outras variações.
Algumas dessas multiplicidades permitem que você seja observado pela própria obra enquanto circunda todos os seus lados. Sendo assim, Piloni escancara o lugar que a mulher socialmente foi posta como objeto de fetiche, ao mesmo tempo que posiciona o espectador como cúmplice quando confrontado por todas as faces. Esse jogo traiçoeiro é evidente, por exemplo, na obra “Selfie”, que a figura, enquanto exibe seu corpo petulantemente, te fotografa com os celulares das outras mãos.
“O patriarcado é um saco” de Camila Soato
Camila Soato, O patriarcado é um saco, 2023
Camila Soato é uma artista natural de Brasília, representada pela Zipper Galeria e conhecida por suas pinturas de abordagem irônica. Em diversas obras, Soato recorta personagens dos cânones da História da Arte e os reimagina sob diferentes contextos de diálogo com a cultura contemporânea. Entendendo que essa História por muito tempo silenciou as vozes daqueles que não ocuparam posições de poder, como mulheres, negros e LGBTQIAPN+, a produção da artista busca realizar um movimento decolonial de reescrita.
Em "O patriarcado é um saco", ela faz uma apropriação da apropriação. Para questionar a representatividade feminina dentro dos museus, em 1989 as Guerrilla Girls se apropriaram da imagem da pintura de Jean Auguste Dominique Ingres, “La Grande Odalisque” de 1814, substituindo o rosto da concubina por uma cabeça de gorila – marca registrada do grupo. Na obra de Soato, a figura híbrida é inserida ao lado de uma senhora que tricota uma trama com a frase que dá nome à obra.
"Preparing for a Face Lifting" de Emma Amos
Emma Amos, "Preparing for a Face Lifting", 1981
Emma Amos foi uma pintora e gravadora afro-americana, que emergiu na cena da arte a partir da década de 1960. Seu irônico trabalho "Preparing for a Face Lifting" [Preparando-se para um lifting facial] faz referência a vários clichês encontrados em revistas de moda. Nessa obra, Amos adapta um formato de uma coluna de conselhos de autoaperfeiçoamento, comum nesse tipo de publicação, e o transfere para sua própria experiência como mulher negra no mundo da arte. Desse modo, a artista investiga os impactos físicos do racismo e do sexismo, bem como a opressão das expectativas culturais sobre a beleza feminina.
"Untitled (Your body is a battleground)" de Barbara Kruger
Barbara Kruger, "Untitled (Your Body is a Battleground)", 1989
Barbara Kruger é um dos grandes nomes da arte contemporânea estadunidense atual, conhecida por obras de arte conceituais em formatos gráficos e acompanhados de textos provocativos em relação a questões sociais e políticas. Uma de suas obras mais icônicas é "Untitled (Your Body is a Battleground)" [Sem título (Seu corpo é um campo de batalha)], criada em 1989. O ano em questão foi marcado por inúmeros protestos contra uma nova onda de leis antiaborto que minavam a decisão da Suprema Corte de 1973. Nesse sentido, a obra de Kruger foi elaborada em apoio aos protestos e à liberdade reprodutiva, e sua potência poética reside na atemporalidade dessa afirmação, ou seja, sob diferentes contextos, o corpo feminino segue sendo um campo de batalha onde diversas estruturas opressoras buscam roubar sua autonomia e direitos.