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Uma investigação poética sobre traumas pessoais e históricos
André Penteado, nascido em São Paulo em 1970, emerge profissionalmente do mundo da fotografia, linguagem que domina suas produções artísticas até hoje, embora também estenda suas experimentações à produção de vídeo e ao texto. Desde o início de sua carreira em 1998, Penteado tem se destacado por tensionar os limites da fotografia documental, a partir do registro de eventos históricos brasileiros ou pessoais de grande carga emocional.
Um dos primeiros passos em direção à área das artes visuais foi dado em 2007, quando iniciou um projeto profundamente pessoal intitulado "O Suicídio de Meu Pai". Diante dos objetos pessoais deixados por seu pai, quinze dias após sua partida, Penteado precisa decidir quais destinos daria para essas lembranças tangíveis. E o que inicialmente parecia um gesto simples de vestir as peças de roupa, tornou-se uma pesquisa artística complexa, onde a tentativa de se conectar fisicamente aos últimos rastros de seu pai, como o perfume e os fios soltos de cabelo que permaneceram nas peças, culminou em uma obra que não só marcou sua carreira, mas também o consagrou como vencedor do prestigioso Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger em 2013.
André Penteado, O Suicídio De Meu Pai (2014)
A partir dessa experiência, o artista se volta para a investigação poética de fotografar vestígios, sejam estes do âmbito pessoal ou histórico, a fim de tecer suas próprias narrativas. Para Penteado, é possível traçar um paralelo entre a fotografia documental e historiografia, visto que ambas são invariavelmente ideológicas e moldadas pelas perspectivas de quem as capturou ou as escreveu, ainda que se proponham a retratar a realidade. Sendo assim, sua produção recente se dá no cruzamento temporal entre passado e presente, capturando a essência dos eventos históricos selecionados e buscando identificar suas reverberações na contemporaneidade.
Entendendo isso, André encabeçou novos projetos de foto-livros, onde escolheu eventos da história brasileira anteriores à criação da fotografia ou à chegada da dela nos locais onde estes fatos ocorreram. Para estes, as revoluções da Cabanagem no Pará (1835-1840) e da Farroupilha no Rio Grande do Sul (1835-1845), além da Missão Francesa de 1816, foram os pontos de partida. O artista mergulhou na pesquisa desses eventos, entrevistando historiadores e lendo livros relevantes sobre o assunto para compreender como os vestígios do passado moldaram a trajetória do país.
Atualmente, além de ter suas obras exibidas em diversas exposições individuais pelo Brasil, Argentina, Espanha e Inglaterra, onde viveu por sete anos, André Penteado consolidou sua presença em acervos importantes. Suas fotografias, agora parte do prestigiado acervo da Pinacoteca de São Paulo, são exibidas na sala intitulada "No ateliê", evidenciando o reconhecimento e impacto duradouro de sua contribuição para o cenário artístico.
Visite a mostra "Refundação"
André Penteado, Cabanagem, 2015
Se você se interessou por conhecer mais do trabalho de André Penteado, recomendamos a visita à exposição "Refundação", fruto da parceria entre a Galeria ReOcupa e MSTC. A coletiva apresenta cerca de 150 obras que pautam uma revisão das marcas políticas em nossa narrativa histórica, ao mesmo tempo em que destaca a necessidade de desenvolver novas formas de pensar, relacionar-se e praticar arte globalmente.
Entre os participantes, encontram-se tanto artistas renomados quanto novos talentos, incluindo André Penteado, que participa com três obras do projeto Cabanagem.
Serviço:
Refundação
Período expositivo: até 28 de janeiro de 2024
Local: Galeria ReOcupa
Entrada gratuita
