Com máscaras de gorilas as Guerrillas Girls vem, desde a década de 1980, desafiando o circuito artístico com centenas de projetos provocativos, incluindo campanhas de lambe-lambes, apresentações, turnês de palestras e publicações influentes. Mais do que panfletagem, esse grupo de mulheres produz arte. Sim, arte! Uma arte política e feminista que também está presente nos maiores acervos do mundo, incluindo o MASP.
Conteúdo do artigo:
Como surgiram?
As vantagens de ser uma mulher artista, 1988, Guerrilla Girls
Em 1984, o MoMA de Nova Iorque fez uma exposição chamada "An International Survey of Painting and Sculpture". Na ocasião, o próprio curador, Kynaston McShine, afirmou: “qualquer artista que não estiver representado nessa exposição deve repensar a sua carreira", porém dos 169 artistas incluídos, todos eram brancos e apenas 13 eram mulheres. Esse foi o gatilho para as Guerrillas se unirem, fazerem cartazes de protesto e colá-los nas ruas ao redor do museu.
Por que elas cobrem os rostos com máscaras de gorilas?
Todas as ativistas do grupo escondem suas verdadeiras identidades chamando a si mesmas de nomes de grandes artistas mulheres do passado, como Frida Kahlo e Käthe Kollwitz. O anonimato traz dois benefícios: a segurança física e o empoderamento coletivo, inclusive de mulheres que não fazem parte do grupo por alimentarem a ideia de que elas podem estar em qualquer lugar, podem ser sua colega de trabalho, sua vizinha, sua modelo. Além do mais, elas justificam a atitude como uma analogia ao fato de que o anonimato da mulher nas artes foi imposto ao longo da história.
A ideia original era de usar máscaras de esqui para esconder seus rostos, mas certa vez, quando uma delas falava ao telefone, o ouvinte entendeu que o nome do grupo era "gorila girls" – vale lembrar que no inglês a semelhança na pronúncia entre “guerrilla” e “gorila” é ainda maior –, então elas acharam interessante brincar com essa imagem. Mas essas mesmas máscaras também levantam um problema para as artistas negras por reforçar estereótipos racistas, principalmente na época em que usavam de tonalidades diferentes.
Estratégia didática e humorada
How many women had solo shows at NYC museums? Recount (2015)
Se colocando em guerra diretamente com as instituições, as Guerrillas Girls precisavam de apoio popular, mas de início elas seus protestos não traziam resultados concretos e nem atraíam a atenção do público. Foi então na ironia que elas encontraram um caminho para se conectar com o povo e mostrar que "feministas podem ser engraçadas". Elas ainda afirmaram: "quanto mais ríamos do mundo da arte, melhor nos sentíamos".
Além disso, os títulos e estatísticas funcionam de maneira bastante didática. Quando elas afirmam, por exemplo, que em determinado museu existem X número de artistas mulheres em relação a Y homens, elas estão educando o olhar do visitante para começarem a fazer essas contagens. E à medida que elas se tornam mais populares pelo mundo, mais interessante é para os museus as convidarem para fazer uma exposição, tal como o MASP fez em 2018. Mas essa atitude é sempre uma faca de dois gumes, pois convidá-las é sinônimo de se colocar como alvo de suas críticas.
Versão em português, feita especialmente para o Masp, de um dos pôsteres icônicos das Guerrilla Girls (imagem: Guerrilla Girls)
E aí? Gostou de conhecer esse coletivo de artistas mulheres? Aproveite para conferir outros artigos sobre mulheres da arte contemporânea disponíveis aqui no site.