A mais recente exposição sediada na Zipper, chamada “Coleção de Eus”, apresenta um conjunto de obras inéditas de Katia Maciel. Esta é a quarta individual da artista na galeria e traz poema-objetos, instalações e performance. Conheça alguns dos múltiplos “eu’s” da artista.
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Quem é a artista Katia Maciel?
A carioca Katia Maciel possui um currículo respeitável, com três pós-doutorados, sete livros-poemas publicados e exercendo o cargo professora titular da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a palavra “acadêmica” parece insuficiente para defini-lá. Suas obras constituem importantes coleções como, entre outras, a do Museu de Arte do Rio, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Oi Futuro do Rio de Janeiro e Maison Européenne de la Photographie, além de já terem sido exibidas nos mais diversos países pelo mundo.
Mas não se deixe assustar por todos esses títulos e reconhecimentos, a obra de Maciel exposta atualmente na Zipper pauta a simplicidade da pequena palavra “eu” com um tom humorado.
Outros “eu’s” de Katia Maciel
Eu + Eus, 2022, Katia Maciel
Se você teve contato com o corpo de trabalho de Maciel, pode soar redondante dizer que ela, além de artista visual, é também poetisa. Afinal, as duas linguagens estão completamente presentes em suas obras, uma sem se dissociar da outra. Além dos suportes como espelhos, papeis e letreiros, suas verdadeiras matérias-primas são as palavras. Em “Coleção de Eus” fica evidente como elas, partindo das mãos de Maciel, tornam-se objetos ou então até ganham corpo, firmando-se no espaço expositivo, como por meio da performance colaborativa “Giro Eu”, que consiste em uma proposta para uma dupla de visitantes vestir as letras “E” ou “U” e girarem até seus encontros e distanciamentos.
Mas um outro “eu” da artista que não é tão manifesto na mostra é seu lado cineasta. A artista que possui doutorado na área do cinema e já produziu diversos curta-metragens, se inseriu no circuito das artes visuais por meio da linguagem do vídeo, quando criou a obra “Um, Nenhum, Cem Mil” (2002), seu primeiro trabalho que teve ampla circulação no meio. Mas os caminhos da escrita e da expressão plástica, que antes iam em direções completamente opostas, se unificaram quando a partir da performance, por volta de 2017.
“Eu” como conceito de identidade
Eu vista , 2022, Katia Maciel
Na obra “Eu vista” a artista faz uma referência clara ao tradicional exame oftalmológico de acuidade, distribuindo uma sequência de “Eu’s” sobre um letreiro, de maneira que, a cada linha, as palavras encontram-se menores. Se o exame médico testa a distância que o paciente enxerga e deixa de enxergar as letras com precisão, Maciel parece brincar com o reconhecimento de identidade do tal “eu”, questionando o expectador: Você consegue enxergar até mesmo o “eu” mais pequeno? Quais “eu’s” você enxerga?
Eu isso eu aquilo , 2022, Katia Maciel
Mas quem sou “eu”? Quem é “eu”? Na produção desta mostra a artista transita nas mais variadas possibilidades de resposta. Nela “eu” é imagem e é coisa, como quando se apropria da expressão popular “eu isso eu aquilo”. É múltiplo como o próprio título da exposição indica. A artista subverte condição gramátical de primeira pessoa do singular da palavra “eu” e até a transfere para a terceira pessoa como quando diz “eu é…” ao invés de “eu sou…”. Mais do que tudo isso, ela coloca o espectador de forma ativa na exposição, em corpo e intelecto, para tirar suas próprias conclusões.
Visite a exposição “Coleção de Eus”
Se você está em São Paulo, aproveite para visitar a exposição da Katia Maciel na Zipper até o dia 25 de março. A entrada é gratuita e você é sempre bem-vindo.