Bruno Pinheiro é um jovem artista visual promissor que, pela primeira vez, exibe seus trabalhos publicamente por meio da 14° edição do Salão dos Artistas Sem Galeria sediada na Zipper. Ao lado de outros nove artistas, Bruno foi selecionado entre quase 300 inscritos e apresenta um conjunto de pinturas figurativas que celebram a cultura afrobrasileira.
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Os primeiros frutos de uma jovem semente
A semente dessa história entre Bruno e as artes visuais é de um relacionamento antigo, mas que veio a germinar só mais recentemente. Nascido em 1995, em Maricá, município do Estado do Rio de Janeiro, Bruno sempre foi uma personalidade apaixonada pelas práticas criativas. Quando criança, ele gostava de elaborar seus próprios personagens de brinquedo com materiais reciclados e, depois, cresceu com a pintura como principal hobby. Mas, talvez pela falta de referência, ele nunca enxergou a arte como possível profissão, por isso ingressou na faculdade de Publicidade e Propaganda, acreditando que trilharia um caminho menos incerto sem precisar se distanciar da área de criação como um todo.
Foi então no ano passado que os eixos mudaram e a história ganhou outra velocidade. A curadora da iniciativa Câmara Setorial de Artes Plásticas, Erika Pessanha, encontrou as pinturas de Bruno pelo Instagram e o convidou a fazer parte do coletivo. E foi lá, que além de fomentar sua produção, o jovem artista foi incentivado a se inscrever no edital da 14ª edição do Salão dos Artistas Sem Galeria.
Mas calma, que nem tudo é tão simples. O caso do artista nos chamou atenção para lembrarmos que inclusão e acessibilidade são iniciativas que devem se estender para além da abertura de espaços para receber novos nomes. Afinal, depois de saber que havia sido selecionado, Bruno ainda precisava de recursos para poder se deslocar de sua cidade até a capital paulista para a montagem. A Câmara Setorial organizou então uma vaquinha online, e esta chegou até ao Banco Mumbuca, que por sua vez foi o grande patrocinador da viagem.
“O meu trabalho está alcançando lugares que eu não poderia imaginar”, comentou o artista. “Eu estou ganhando visibilidade pro meu trabalho, mas ao mesmo tempo, entendo que eu estou gerando visibilidade para a minha cidade, para a produção de toda comunidade artística de Maricá”.
Obras expostas na exposição
Afeto, 2022, Bruno Pinheiro
Na 14ª edição do Salão dos Artistas Sem Galeria, Bruno participa com um total de nove peças, sendo que uma, intitulada como “Afeto”, é exibida individualmente, enquanto as outras oito ganharam uma potência em sentido coletivo na expografia da exposição.
O conjunto consiste em apresentar figuras da ancestralidade negra, que por muitas vezes foram ocultados da História, e entidades religiosas de matriz africana. A maioria de seus personagens não possuem rosto ou uma individualização específica, mas é ornamentado com símbolos que diferenciam essas personalidades ou entidades. É o caso, por exemplo, da pintura “Tereza de Benguela”, que com figuras de poucos detalhes, faz referência à líder da resistência contra o governo escravista do século 18 com o povo quilombola em seu saiote. Ou ainda a série “Orixás” que traz Oyá, Ogum e Login Edé que são referenciados por meio da imagem do búfalo, da espada de São Jorge e das penas de pavão.
A tela “Afeto” já apresenta dois rostos, mas trata-se de uma criação mais espontânea, sem a intenção de retratar alguma personalidade em específico. Com ela, o artista deixa em aberto para o público projetar suas próprias interpretações.
As imagens coloridas em tinta acrílica são carregadas de uma aura festiva, bastante distante dos estereótipos racistas que muitas vezes esperam que as pautas das populações negras sejam reduzidas à dores e sofrimentos. “Geralmente esses assuntos costumam ser retratados em tons de marrons, eu também quis fazer algo diferente”, explica o artista que se debruça a investigar referências de diversas estampas africanas.
Visite o Salão dos Artistas Sem Galeria
Você pode conferir os trabalhos de Bruno Pinheiro e de outros artistas que compõem a exposição do Salão dos Artistas Sem Galeria até o dia 25 de fevereiro no espaço da Zipper Galeria.