3 pontos a se considerar sobre os ataques às obras de arte em defesa do meio ambiente

Nos últimos meses grupos como Just Stop Oil têm atraído os olhares do mundo inteiro por travarem uma briga com os museus
Novembro 30, 2022
3 pontos a se considerar sobre os ataques às obras de arte em defesa do meio ambiente

Tudo começou em 29 de junho quando o grupo Just Stop Oil, um dos mais ativos nessa sequência de protestos, colou suas mãos em “My Heart's in the Highlands” (1860) de Horatio McCulloch, na Kelvingrove Art Gallery and Museum, em Glasgow. Esses jovens ativistas atuam no Reino Unido e vandalizam os museus para exigir que o governo suspenda todas as licenças futuras para o desenvolvimento e produção de combustíveis fósseis. O que devemos considerar vendo todo esse movimento?

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A crise climática precisa de atenção



A maior parte da reação do público geral na internet é baseada em grande desdém, desaprovação ou ridicularização. Nesse caso, diminuir o nível de identificação dessas pessoas com o seu movimento pode ser bastante prejudicial para o Just Stop Oil, porque eles buscam construir uma mobilização em massa. Além disso, a pauta é bastante legítima de atenção do público geral: estudiosos apontam que estamos em rumo ao “inferno climático” e que exigir investimentos em energia renovável e o fim dos combustíveis fósseis são reivindicações urgentes. 


Porém, vale ressaltar que, antes mesmo de recorrerem aos espaços museológicos, o grupo realizou, por exemplo, protestos em terminais de petróleo e nos escritórios do governo do Reino Unido em Edimburgo, mas nenhuma ação foi tão efetiva em atrair os olhares do mundo todo como os ataques às pinturas. Não é à toa que a gente está aqui debatendo tudo isso agora, não é mesmo? Portanto, um dos elementos mais relevantes nesse contexto todo, são os holofotes que nós damos e como damos à pauta.


Por que eles atacam a arte?


Logo no início dessa onda de ataques às obras, porta-vozes do Just Stop Oil disseram que o que eles buscam é que as instituições artísticas se juntem à eles na “resistência civil” contra as mudanças climáticas. Entretanto, é difícil de compreender tal intenção quando as vítimas dos atos vandalistas são as próprias instituições das quais esperam apoio. Por isso mesmo, esses movimentos têm sido apontados pela mídia como “ecofascistas”, ou seja, uma vertente política que parte de uma falsa preocupação com causa ambiental como pretexto para atacar a cultura, justificar ações de cunho racista, entre outros propósitos autocráticos.

Fato é que mesmo os grandes museus e artistas, que já possuem estabilidade e financiamento para se manterem, estão em constante luta de resistência. E é claro que esse meio abriga as mais diversas discussões, incluindo até mesmo obras que criticam incisivamente o sistema artístico e mercadológico. Mas no caso em questão, não há coerência ou qualquer ligação plausível entre o discurso promovido e as ações realizadas. Portanto, seria muito mais eficiente se esses grupos de fato se unissem aos artivistas que pautam a questão ambiental há longa data.
Outras contradições e esvaziamento de conceito

Outras contradições e esvaziamento de conceito

Talvez seja exagero chamar de “ataques” quando as obras em questão, em sua maioria, estão em segurança, protegidas por um vidro. O grupo sempre afirmou que não tinha a intenção de ferir fisicamente nenhuma peça. Então a ação se esvazia de sentido e o que parece perigoso é um mero espetáculo, não uma realidade. O que se sobressai é uma contradição e o questionamento: Eles estão atacando ou entendem que a arte deve ser protegida?

Mesmo atraindo os olhares do mundo inteiro, o movimento não contribui em nada para promover a defesa da causa. Inclusive, à medida que os repetidos episódios começam a nos entediar, esses jovens perdem a grande oportunidade de nos imergir no assunto. 


E você? Como recebeu todo esse movimento? Se sentiu motivado(a) a pesquisar e se envolver com a pauta ou desaprovou as atitudes?


About the author

Giovana Nacca

Giovana Nacca é artista visual por formação universitária, redatora em portais de arte contemporânea e criadora de conteúdo no Instagram @gisplicando.