“Desbundo-Me” (2019) - Monica Piloni
Muitas vezes falamos da imagem do corpo como algo superficial e inocente. Mas essa estética é fundamental na construção daquilo que compreendemos e investigamos como identidade, gênero, sexualidade, raça e etnia. As pessoas alteram suas silhuetas, cabelos e roupas para se alinharem ou se rebelarem contra as convenções sociais e para expressar o que acreditam. Confira como quatro artistas contemporâneos usam o aspecto da distorção para pautar temas profundos.
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Jana Euler
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Thatiana Cardoso
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John Coplans
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Monica Piloni
Jana Euler
“Venice Void” (2022) - Jana Euler
Jana Euler é uma artista alemã, radicada em Bruxelas, cujas obras integram a exposição principal da 59ª Bienal de Veneza deste ano. Entre os trabalhos apresentados, há uma pintura que apesar de inédita é bastante típica no modo de tratamento da artista. “Venice Void” (2022) apresenta um rosto desconstruído e remontado de forma caleidoscópica. A imagem do corpo esticado confronta o espectador com os olhos azuis agigantados. A figura parece ter pintado seu próprio retrato como se a tela fosse um espelho em seu teto, destacando seu rosto e permitindo-lhe ver as costas no mesmo plano.
“Under this perspective, 1” (2015) - Jana Euler
Thatiana Cardoso
Corpo Estranho (2021) - Thatiana Cardoso
A artista brasileira cresceu em um ambiente religioso bastante repressor, onde ouvia tantas vezes que o “corpo da mulher é biologicamente mais adequado para o serviço doméstico”, que levou isso ao pé-da-letra e passou a investigar as semelhanças entre objetos de cozinha e o corpo humano. Através do zoom da câmera, esses objetos perdem suas identidades e evocam um mistério, transitando entre a estética carnal e artificial. Suas obras são intrinsecamente pautadas na dubiedade, na traição das imagens como um reflexo das relações humanas e as violências invisíveis.
Métodos para obter a confissão (2018) - Thatiana Cardoso
John Coplans
Back Torso From Below (1985) - John Coplans
Coplans foi um artista britânico que viveu entre 1920 e 2003 e começou a tirar fotos em preto e branco de seu corpo nu a partir dos sessenta anos. Ainda que sejam autorretratos, o artista nunca inclui seu rosto em suas imagens, representando um corpo desfigurado em vez de uma identidade particular. Em “Back Torso From Below”, a maneira como ele contorce seu corpo resulta em uma forma quase abstrata que enfatiza linhas e curvas. Ao fotografar seu corpo nos últimos anos de sua vida - desafiando as convenções da beleza juvenil - o artista enfrenta questões de envelhecimento e deterioração, assuntos geralmente ignorados e temidos na sociedade contemporânea.
“Self Portrait (Back and Hands)” (1984) - John Coplans
Monica Piloni
“Haverias de querer minha alma? (Série No Meu Quarto)” (2014) - Monica Piloni
Piloni é uma artista brasileira, representada pela galeria Zipper, que cria esculturas de corpos femininos com distorções que às vezes beiram o assustador. As mutações apresentam os membros e seios duplicados, cabeças faltantes, entre outras variações. Algumas dessas multiplicidades permitem que você seja observado pela própria obra enquanto circunda todos os seus lados. Assim, a artista escancara o lugar que a mulher socialmente foi posta como objeto de fetiche, ao mesmo tempo que posiciona o espectador como cúmplice quando confrontado por todas as faces. Esse jogo traiçoeiro é evidente, exemplo na obra “Selfie”, que a figura, enquanto exibe seu corpo petulantemente, te fotografa com os celulares das outras mãos.
Selfie (2022) - Monica Piloni
Aproveite para encarar essas deturpações de perto na última semana da individual “Humanas, demasiado humanas”, de Monica Piloni.
About the author
Giovana Nacca
Giovana Nacca é artista visual por formação universitária, redatora em portais de arte contemporânea e criadora de conteúdo no Instagram @gisplicando.