Adriana Duque, Ela, 2022
Listamos quatro artistas contemporâneos que, de diferentes maneiras, borram os supostos limites entre as duas linguagens
A história da relação entre a pintura e a fotografia é longa. Ambas se construíram como linguagens autônomas e resistiram a diversas mudanças de contexto e avanços tecnológicos. Muitos já repudiaram a fotografia em favor da pintura e vice-versa. Mas o entrosamento entre elas também não é algo recente. Ainda no século 19, surgiu uma técnica muito comum nos álbuns de família: a fotopintura. Que nada mais é do que uma fotografia pintada a mão. Você já deve ter visto alguma na sua casa ou na dos seus avós, não é mesmo?
Fato é que hoje temos os artistas contemporâneos rompendo com todas as barreiras entre técnicas e apresentando uma produção poderosa frutos desses hibridismos.
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Vik Muniz
O artista brasileiro é amplamente conhecido por fazer pinturas com os mais diversos materiais. Porém, há uma série de trabalhos singulares em sua produção recente que ele chama de “fotocubismo”. A pesquisa é claramente uma referência ao movimento cubista, do qual Muniz resgata nomes como Pablo Picasso, Georges Braque e Juan Gris para serem seu ponto de partida.
Vik Muniz, Superfícies: The Reservoir at Horta de Erdo, a partir de Picasso, 2021
O processo de criação dessas obras se dá em uma sucessão de camadas alternando entre pintura e fotografia no intuito de ressaltar o próprio conceito cubista de incluir a representação de diversas dimensões em um plano bidimensional. Em outras palavras, o que ele faz é: escolher uma composição de um artista do movimento, pintar esta imagem selecionada, fotografar, imprimir e ampliar, reprocessar por meio de colagens, fotografar e imprimir novamente. No resultado o espectador não consegue diferenciar com clareza as sombras criadas pela colagem – e registradas em fotografia das representações de sombras criadas na camada da pintura.
Gerhard Richter
O pintor alemão cresceu debaixo do regime autoritário do leste de seu país antes de se mudar para Düsseldorf. Na nova cidade, Richter foi fortemente fascinado e estimulado criativamente pelas imagens de revistas, recortes de jornais e álbuns de fotos da família. Assim ele concebeu uma importante produção chamada de pinturas fotográficas. Essas telas possuem uma técnica particular de desfoque que funciona como um contraponto ao realismo não apenas da técnica, como também do próprio conceito da fotografia como registro da realidade.
Gerhard Richter, Uncle Rudi, 1965
Gerhard Richter, S. with Child, 1995
Marjô Mizumoto
Marjô é uma jovem artista paulista que cria retratos à óleo se apropriando da linguagem publicitária e digital como um todo. Todas as suas imagens são, primeiramente, compostas em fotografia. Depois do registro, ela as passa para a tela, acrescendo referências como a data – como faziam as antigas máquinas fotográficas no canto da imagem – , efeitos de edição digital - como o 3D, entre diversos outros acenos com o universo digital que não possuem sentido prático no pictórico. Sendo assim, podemos dizer que a fotografia enquanto linguagem, e não como técnica, é indissociável das obras de Mizumoto.
Marjô Mizumoto, Oyasumi Bachan (Boa noite vovó), 2021-2022
Adriana Duque
Se consideramos que Mizumoto faz pinturas que se apropriam da linguagem fotográfica, aqui temos o oposto disso. Duque, que está com uma exposição na Zipper até o dia 17 de setembro deste ano, cria imagens de fortes referências pictóricas renascentistas e barrocas por meio da fotografia. O mais interessante de seu processo é que ela subverte a técnica utilizando-a como registro da fantasia e não da realidade, afinal sua temática é muito pautada na fabulação. Depois do registro fotográfico, ela faz intervenções em pintura digital que cria um misticismo para o espectador sobre a técnica utilizada pela artista.
Adriana Duque, Eva, 2022
Agora que você já sabe a resposta do mistério por trás dos trabalhos de Adriana Duque, que tal ver de perto e tirar a prova? Visite a exposição “Tudo o que tenta se revelar” na Zipper!