A terceira exposição individual de Adriana Duque chega à Zipper e você pode se perguntar: Como são feitas essas obras? São fotografias? São pinturas? O que há de místico no olhar dessas crianças retratadas? Vamos responder todas essas questões te aproximando dos bastidores criativos da artista.
Conteúdo do artigo:
- Referências da pintura clássica
- Como a artista constrói suas imagens?
- Dúvida, ambiguidade e mistério como poética
- Visite a exposição “Tudo o que tenta se revelar” na Zipper
Referências da pintura clássica
Nascida e criada na Colômbia, onde mora até hoje, a artista sempre se interessou por uma atmosfera austera da realeza. Desde criança ela foi cercada por referências dessa estética graças a sua avó que muito gostava de compartilhar sua rica enciclopédia de períodos clássicos da pintura europeia.
Este fato, nos ajuda a compreender um primeiro aspecto da produção de Adriana Duque que são as referências barrocas e renascentistas, em especial. Você já deve ter notado essas semelhanças, não é mesmo? Afinal, uma de suas séries até possui o título “Renascimento” e utiliza-se de diversos recursos deste período, como a composição em formato triangular, a centralidade da figura humana e a técnica chiaroscuro (do italiano “claro-escuro”). Os adereços e adornos exagerados, além do alto contraste em suas imagens também são explicitamente um aceno ao Barroco.
Como a artista constrói suas imagens?
Mas será que além das noções compositivas, a artista também constrói essas imagens com a mesma técnica de pintura desses períodos? Na realidade, Adriana Duque tem a fotografia como principal recurso praticamente desde o início de sua carreira. Mas o mais interessante é que, ao contrário do que talvez o próprio conceito da técnica proponha, a artista utiliza a fotografia como registro da fantasia e não da realidade.
Cada imagem de suas produções nascem anteriormente no imaginário de Duque. Depois, além das figuras humanas, cada peça é criada no mundo real pelas mãos da própria artista, seja bordando, esculpindo ou adaptando. Depois do registro fotográfico há então uma intervenção de camadas de pintura digital por cima, permitindo salientar o misticismo sobre a concepção.
Dúvida, ambiguidade e mistério como poética
E por falar em místico, toda a criação da artista é pautada na ambiguidade. O mistério de várias perguntas que surgem na mente do espectador compõem a poética de sua produção. As figuras infantis que evocam pureza e inocência estão em contraste com as cores sóbrias e o olhar carregado de apreensão que te fazem questionar o que elas estão vendo ou o que as assusta. Este lugar dúbio muito combina com o alto contraste das cores preto e branco predominantes, como também com a dúvida sobre a técnica utilizada.
Em suma, toda a sua produção revela como Duque é uma artista que manteve sua criança interior viva, instigando o imaginário e a fantasia.
Visite a exposição “Tudo o que tenta se revelar” na Zipper
Nela, a artista parte de uma experiência do isolamento social pela covid-19 em contato com a natureza. Acontece que, ainda que a artista more em uma região urbana, seu prédio onde mora é localizado exatamente no limite da cidade, ao lado de uma grande floresta. Este contato a inspirou a fazer esta série que retrata, segundo Duque, arquétipos íntimos, ligados à força da natureza e à delicadeza das formas botânicas.
Visitação até dia 17 de setembro.