O que é um OVR ou Online Viewing Room?

Música no caos
Setembro 8, 2021
Online View Room

Essa semana saiu o álbum novo do Kanye West. Antes de soltar o álbum, ele organizou três eventos públicos que terminaram controversos e caóticos—praxe quando se trata do Kanye—mas foi um recomeço da música ao vivo, uma chance de interação entre arte, público e artista. Escutando, enfim, o álbum sozinho na minha sala, não conseguia tirar da cabeça a ideia de quão solitária acaba sendo a experiência da música no espaço virtual, quão desconectada. Por mais que a internet seja facilitadora de tanto, ela também traz a dissonância, promove o distanciamento. 

 

Em um museu, em uma galeria, é exatamente o contrário. Há uma força invisível que torna a experiência do passear em meio a arte irrevogável. A mesma coisa acontece em um show de música, no cinema, na festa, quando as luzes se apagam e a porta fecha, há comprometimento. 

 

A pandemia levou isso embora. E um Online Viewing Room portanto, em meio ao cenário pandêmico, surge de certa forma, para achar música no caos. 

 

O que você vai ver nesse artigo: 

  • O que é um OVR?

  • O artista em meio ao virtual

  • OVR na Zipper

  • OVRs pelo mundo

  • O Futuro

 

O que é um OVR?

Online Viewing Rooms (OVRs) são espaços multimedia virtuais montados por galerias e museus para difundir a arte de uma maneira mais acessível. Variam de simples páginas exibindo arte, até complexas experiências de realidade virtual, e estão acontecendo, de uma forma ou de outra desde 2011, quando a VIP Art Fair lançou a primeira feira de arte completamente online. Naquela época, a tecnologia não propiciava uma experiência muito boa, a feira não deu certo, talvez o momento ainda não fosse correto. 

 

OVR

 

Em 2017, OVRs acharam nova vida quando grandes galerias começaram a experimentar mais com o espaço virtual. Entraram na cultura mas não decolaram. Pois bem (ou mal, no caso), veio a pandemia, e do dia pra noite se tornou necessário diversificar a maneira pela qual consumimos arte. OVRs se tornaram imprescindíveis em um cenário onde não podíamos sair de casa mas a arte continuava acontecendo. Agora, uma nova onda de colecionadores e entusiastas têm a chance de “visitar” galerias em diversas partes do mundo sem precisar viajar.

 

Para uma galeria em São Paulo, onde o espaço físico é tão valioso, o espaço online é ilimitado, e para quem souber usar bem, o OVR é uma segunda galeria, completamente nova, tanto do ponto de vista físico quanto artístico, que permite a difusão da arte de uma maneira muito mais acessível, que pode até promover uma participação maior da audiência. 

 

É bom para o artista? 

Há de se imaginar que sim. O espaço cresce, e mais artistas promissores tem a chance de serem exibidos, de influenciar, de ver sua arte reconhecida por um público maior. Contanto, claro, que os museus e as galerias se proponham realmente a adentrar o espaço virtual, utilizar dele tudo que lhes é dado, principalmente o engajamento das redes sociais: pessoas desacostumadas a visitar uma galeria podem mudar de ideia ao se depararem com um link; pessoas que moram em comunidades carentes, que moram longe, passam a ter a chance de conhecer espaços que antes estavam fechados para elas. A uma tab de distância, a interação entre público, arte e artista vai se tornando cada vez mais orgânica na era digital. 

 

OVR na Zipper 

Mês passado, a Zipper lançou seu primeiro Online Viewing Room. Entitulado “Algoritmo Cósmico,” o OVR apresenta uma exibição multimedia que questiona o papel de algoritmos na nossa vida e busca despertar uma reapropriação do termo, desvencilhando-o do regente tecnocapitalismo. A exposição engloba vários artistas como Carla Chaim, Fernando Velázquez e Haythem Zakaria, e apresenta obras em diversos formatos, em dimensões e disposições que na galeria física talvez não fossem possíveis.

 

OVR na Zipper

 

Perguntado sobre o OVR, o curador da exposição, Icaro Ferraz Vidal Junior, respondeu:

“Já que é online, eu tinha a possibilidade de trabalhar com artistas e obras que não estão em São Paulo, ou no Brasil, por exemplo. Isso me permitiu também colocar uma quantidade de vídeos que talvez numa galeria seria mais difícil de funcionar. Eu quis escapar de uma certa nostalgia do espaço físico, é uma outra experiência. […] O que conecta esses trabalhos, portanto, não é uma linguagem, já que é um grupo bem heterogêneo, mas sim a maneira com que tensionam relações entre noções como acaso e a necessidade, a determinação e a liberdade e qual a nossa margem de manobra dentro disso.”

 

Visite o Algoritmo Cósmico em 3D aqui

 

OVRs pelo mundo

O site Walter’s Cube possibilita o acesso à vários Online Viewing Rooms de diversos museus pelo mundo, como o Whitney e o MET em Nova Iorque, a galeria König em Berlim, ou mesmo o TATE Modern em Londres. Até a mais famosa feira de arte do mundo, a Art Basel, está trabalhando com OVRs, e em 2020, foi toda online.

 

O Futuro  

Não há dúvida que OVRs adentraram a cultura popular, mas o que nos espera ainda no futuro? Por um lado, o boom dos NFTs cria uma nova fronteira para a arte: Online Viewing Rooms onde somente arte virtual é exibida e comercializada. Por outro, a possibilidade de maior interação online é certamente uma adição bem vinda ao mundo da arte contemporânea, que recentemente vem tentando se desvencilhar um pouco do suas bases elitistas e exclusivas. Grátis ou não, pessoas do mundo todo podem visitar um OVR sem grandes restrições, e a contínua fusão entre internet e rede social cria uma abertura muito maior à pessoas que não necessariamente se interessam por arte. 

 

Sem contar que, com a melhora nas tecnologias de scan em 3D e de realidade virtual, é muito possível nos depararmos daqui a pouco com museus que oferecem visitas virtuais completamente envolventes, verdadeiras simulações de arte. 

 

Claro que aí há seu lado amedrontador também, porque muito da vida moderna gira em torna do estado sedentário—empresas como a Amazon fazem da vida isso—e simulações virtuais hiperrealistas são mais um passo em direção à dissonância social. 

 

Seria esse então o começo do fim das galerias físicas? Afinal, o que é o instagram se não um OVR em potencial? 

 

Também não é pra tanto. A resposta é obviamente não, a galeria física não vai deixar de existir. Inevitavelmente, nos próximos meses e anos veremos mais e mais galerias que só existem no espaço virtual aparecendo—o que não é ao todo ruim, pode-se até lembrar do antigo adágio: viva a democratização da arte! 

 

Mas por enquanto, não há como replicar o momento háptico, a experiência tangível de se observar uma obra de arte em pessoa; a textura dos objetos, o toque, a vivência e a interação física são inexoráveis da arte. Continuarão sendo. Por isso, OVRs são uma adição ao mundo da arte contemporânea, não um substituto, e com sua crescente difusão, propiciam novas relações com o sublime. 

 

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