
Em nossas rotinas aceleradas, de uma cultura cada vez mais digital e instantânea, quanto há de espaço para o sonho e a imaginação? Neste Dia Mundial do Teatro, celebrado anualmente no dia 27 de março, apresentamos o trabalho de Flávia Junqueira, que resgata o encantamento que os teatros sempre evocaram.
A partir de uma dimensão onírica, transformando o espaço cênico em uma composição pictórica, a artista elabora imagens que preservam a memória desses ambientes cênicos e os reinventam poeticamente. Nessas cenas teatrais, que dispensam atores humanos, os balões coloridos são tanto espectadores nos bancos, quanto protagonistas do espetáculo.
Senhoras e senhores, pedimos que se acomodem, por favor, a peça já vai começar.
Conteúdo do artigo:
Teatro como espaço para deslocar da realidade
Entrar em um teatro vazio é sentir os vestígios de tantas encenações já entoadas. O silêncio das coxias, o brilho opaco dos lustres, a poeira suspensa – tudo ali carrega um tom de magia e encantamento, e é dessa atmosfera de memória e imaginação que a artista Flávia Junqueira parte para produzir seus trabalhos.
Sendo o palco esse lugar onde a realidade cede espaço para a fantasia coletiva, esses cenários são o melhor suporte para a produção de Junqueira, cuja pesquisa poética se baseia em criar um universo próprio e mágico. A artista recorre ao gênero da fotografia encenada para registrar patrimônios históricos vazios, incluindo teatros de grande relevância mundial, preenchidos com balões de gás hélio. O resultado dessa pesquisa, que faz do ambiente não só seu tema, mas também a própria linguagem, são imagens nostálgicas deslocadas do tempo real.
Flávia Junqueira, Theatro José de Alencar #4, 2020
A relação da artista com o teatro é estética, mas também conceitual e biográfica. Antes de se dedicar integralmente às artes visuais, Flávia Junqueira trabalhou com cenografia teatral ao lado do arquiteto e cenógrafo J. C. Serroni. Sobre essa experiência, ela conta que a impactou de forma determinante – e ainda impacta – no amadurecimento de suas técnicas.
"Trabalhar dentro de teatros e conviver com figurinistas, cenógrafos, iluminadores e toda equipe de produção fez com que eu desenvolvesse aprendizados que utilizo todos os dias quando realizo as fotografias encenadas (...) J. C. Serroni foi uma grande referência naquela época para eu entender como trabalhar e ter um ateliê próprio como artista, além de me ajudar a desenvolver minha própria poética.” – Flávia Junqueira
O encontro do adulto com seu eu infantil
Flávia Junqueira, Teatro Copacabana Palace, 2022
As memórias da infância, o encanto e o assombro característicos do olhar infantil, assim como a capacidade de se maravilhar, sonhar e enxergar a realidade como um campo de infinitas possibilidades, são os principais motores do processo criativo de Flávia Junqueira. Ela ainda se apropria do espírito infantil, que ao contrário do adulto que atribui funcionalidade a tudo que o cerca, opta por uma lógica totalmente antifuncional para o que faz. Ou seja, em suas obras, a arquitetura, os assentos, o palco e a plateia são destituídos de suas funções práticas para serem ornamentos dentro de uma composição de interesse pictórico. Ali, o que a interessa são as cores, as formas e o equilíbrio visual entre esses elementos para criar a atmosfera de seu próprio espectáculo.
Outro conceito fundamental da produção de suas cenas é a justaposição de temporalidades. Seus balões, elementos frágeis e recorrentes nas festas de aniversário de crianças, contrastam com a antiguidade e permanência dos edifícios centenários. A intenção de Junqueira é, portanto, convidar o adulto que observa seu trabalho a voltar a se entregar ao lúdico.
Visite a Zipper Galeria
Para conhecer mais dos trabalhos de Flávia Junqueira, faça uma visita ao nosso acervo. A Zipper funciona de segunda a sexta, das 10h às 19h e, aos sábados, das 10h às 17h, na R. Estados Unidos, 1494 - Jardim América, São Paulo – SP.