Gatos na Arte: três obras com simbolismos ligados aos felinos

Conheça obras de Nina Pandolfo, Leonora Carrington e Edouard Manet que se inspiraram em simbologias associadas aos gatos
Fevereiro 12, 2025
Gatos na Arte: três obras com simbolismos ligados aos felinos

Desde a antiguidade até a arte contemporânea, os gatos já foram temas de diversas representações artísticas. No Egito Antigo, a imagem desses companheiros misteriosos já era regularmente incorporada em esculturas, pinturas em papiro e, mais notavelmente, decoração de tumbas. Ao longo da História da Arte, eles foram associados ao poder, ao mistério e até mesmo à rebeldia.

Em ocasião do Dia Mundial do Gato, celebrado no dia 17 de fevereiro, trouxemos três obras de diferentes épocas que recorrem à imagem felina para comunicar os símbolos de tempos e contextos: La Grande Dame (1951), de Leonora Carrington; “Um amor sem igual” (2013), da brasileira Nina Pandolfo; e Olympia (1863), de Édouard Manet.

Conteúdo do artigo:

 

 

Ocultismo feminino


Obra La Grande Dame, 1951, de Leonora Carrington, em leilão da Sotheby's em 2024

Em novembro de 2024, Leonora Carrington foi um dos nomes mais comentados no mercado artístico após sua obra “La Grande Dame (A Mulher Gato)” ter batido recorde ao ser vendida por US$ 11,4 milhões no leilão da Sotheby's New York. A escultura de madeira entalhada nasceu da colaboração com o marceneiro José Horna, marido da fotógrafa Kati Horna – grande amiga de Carrington. 

 

A peça de 1951 foi criada quase uma década depois da imigração da surrealista para o México, durante um período no qual se envolveu com um grupo de artistas que compartilhavam do seu interesse pelo ocultismo e esoterismo. A frontalidade rígida e uma geometria estilizada caracterizam a obra e derivam do interesse de Carrington pelo Egito Antigo, despertado ainda na infância, quando se espalhou a notícia de que Howard Carter havia descoberto a tumba de Tutancâmon em 1922. Assim como os gatos eram venerados no Egito Antigo, onde eram considerados sagrados e associados à deusa Bastet, protetores do lar, da fertilidade e da alegria, nas obras da artista eles eram constantemente citados pelos mesmos simbolismos ligados com o sagrado e o poder feminino, além, é claro, do fato da artista também ter sido uma amante declarada desses bichanos. 

 


Leonora Carrington em seu estúdio. Créditos: EMERIC “CHIKI” WEISZ


Mistério, doçura e companheirismo

Nina Pandolfo, Histórias Nunca Contadas, 2024


Nina Pandolfo, artista representada pela Zipper Galeria, criou um universo próprio para seu corpo de trabalho, carregado de referências infantis e lúdicas, onde muitas vezes os gatos são protagonistas. Representados com olhos grandes e expressivos, eles estão ligados tanto a memórias afetivas de companheirismo e carinho, quanto ao mistério – características marcantes da fantasia poética de Pandolfo.

 

O felino também já foi representado em uma famosa escultura da artista, chamada “Um amor sem igual”, que foi exibida por anos no MAC-USP, em São Paulo. A instalação de quase 7 metros de comprimento, com cabeça feita a partir de uma impressão em 3D e corpo modelado, foi inspirada no animal de estimação de Pandolfo que a acompanhou por 16 anos. Com pelos macios e emitindo um som de ronronar ao receber carinho, a obra fez sucesso ao incitar a interação dos espectadores. 

 

“Um amor sem igual” (2013) de Nina Pandolfo, no MAC-USP. Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

 

Indomesticável e irreverente 

Édouard Manet, Olympia, 1863

 

O pequeno gato preto aos pés da famosa Olympia de Édouard Manet, apesar de discreto na composição, tem simbolismos fortes para a leitura da obra. Enquanto pinturas anteriores de composição bastante semelhante, como a "Vênus de Urbino" (1534) de Ticiano, que foi inspiração para Manet, traziam a imagem de uma cadela repousando tranquilamente próximo aos pés da deusa, Olympia troca o pet por um gato com a cauda levantada em alerta – e a escolha não parece ter sido por acaso. 

 


Tiziano Vecellio, Venere di Urbino, 1538

 

Selecionada para o Salão de Paris de 1865, a obra de Manet causou bastante alvoroço para a sociedade conservadora desde sua exibição, pelo fato de retratar uma prostituta com olhar direto para o espectador. Na pintura, a postura do gato ouriçado contrasta com a tranquilidade da cena e reforça a atitude desafiadora da própria Olympia, que nos encara sem qualquer traço de submissão.

 

Diferente da tradição clássica europeia, na qual o animal associado à figura feminina era o cão – símbolo de fidelidade e lealdade –, na obra de Manet o gato é uma extensão do próprio espírito de Olympia: representa independência, sensualidade e, para muitos críticos da época, até mesmo promiscuidade.