Nascida e criada no Rio de Janeiro, Katia Maciel é uma artista que carrega em sua produção as marcas de uma cidade moldada pelos mares. Tendo crescido com visitas às praias como programa obrigatório dos finais de semana em família, e também inspirada pela Floresta da Tijuca – a maior floresta urbana do mundo –, sua pesquisa poética hoje busca encontrar conexões nos contrastes entre a força vital da natureza e a solidez regular das construções humanas. Para Maciel, o mar, para além de uma temática recorrente, é também resguardo que faz parte de um processo criativo que exige respiros.
Neste artigo, conheça alguns trabalhos da artista inspirados pelo frescor das águas salgadas.
Conteúdo do artigo:
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“Mais dois”, 2008-2012
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“Ondas: Um dia de nuvens listradas vindas do mar”, 2006–2014
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“Mar Adentro”, 2014
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“E todos os dias eu sonho com o mar”, 2024
Katia Maciel, “Mais dois”, 2008-2012
Qual a distância do horizonte? Como alcançá-lo se a medida em que nos aproximamos, ele recua para ainda mais longe de nós? Em “Mais Dois”, Katia Maciel explora a relação entre corpo, mar e infinito em um vídeo performático ao lado do também artista André Parente. Deitados, sucessivamente, ao longo de um deque, os dois compõem uma espécie de dominó humano, numa tentativa insuficiente de medir a imensidão daquilo que escapa entre nossos dedos. O gesto silencioso e quase meditativo, que tem a quebra das ondas como trilha sonora, reflete sobre nossa pequenez diante da natureza.
Como extensão desta pesquisa sobre dimensões e encontros do corpo com o mar, a artista produziu “Ondas: Um dia de nuvens listradas vindas do mar”, uma instalação interativa composta por projeções de areia sobre o chão e de águas em movimento sobre a parede. Com título emprestado de uma frase do livro “O retrato do artista quando jovem”, de James Joyce, na projeção frontal, as imagens de ondas se sobrepõem, se avolumando verticalmente. Este trabalho remete às memórias da infância da artista, quando ela corria até o mar de braços abertos, esperando que as ondas subissem frente à ela, tal qual se enche um copo de água.
Vale observar que um elemento conceitual frequente nas obras de Maciel é a repetição. Seja de palavras ou de imagens ou ainda no recurso de loop de seus vídeos que denotam a ausência de um começo, meio e fim nas narrativas, a repetição em sua poética pode dialogar com o vai e vem do mar, que apesar de serem constantes, nunca são iguais e se transformam a cada vez que vemos.
Katia Maciel, “Ondas: Um dia de nuvens listradas vindas do mar”, 2006–2014
Mas e se fosse possível dominar e confinar os mares dentro de um ambiente expositivo? Em “Mar Adentro”, o conceito de “cubo branco” cede espaço para uma praia que nos convida a desacelerar o passo na visita aos museus e galerias. Neste trabalho, as projeções de ondas surgem aos pés dos visitantes à medida que estes se movimentam. Aqui, a artista propõe uma coreografia sincronizada entre o visitante e água, e reflete sobre nossas experiências urbanas dessincronizadas com a natureza.
Katia Maciel, “Mar Adentro”, 2014
Desde pequena, Maciel carrega o mar dentro de si, de maneira tal que seu subconsciente a faz sonhar com ele quase diariamente há anos. Das anotações que fez quando acordava, desdobrou-se “E todos os dias eu sonho com o mar”, um trabalho audiovisual apresentado na exposição “Um quarto de mar”, na Pinakotheke Cultural do Rio de Janeiro, no segundo semestre de 2024.
Nele, a artista faz do mar, além de cenário, um personagem que testemunha uma vida banhada de águas salgadas. Recorrendo à poesia, linguagem central em toda sua produção, Maciel construiu uma narrativa guiada por textos que aparecem sobre imagens de arquivos pessoais e revisitações de trabalhos anteriores, e propõem que o visitante navegue pelo seu fluxo de memória. “Puxo o horizonte, me cubro com o mar”, diz uma das frases. O vídeo ainda destaca a qualidade pictórica das ações da natureza, exibindo os movimentos plásticos das ondas e refletindo, por exemplo, sobre quando o mar pinta a areia de branco.
Katia Maciel, frame de “E todos os dias eu sonho com o mar”, 2024
Para saber mais sobre o trabalho da artista, acesse o site e redes sociais da Zipper Galeria.