Emanoel Araújo: A Influência de um Artista, Curador e Gestor Visionário

O artista, cuja obra integra a atual exposição Zipper Open, marcou a história da arte como artista, gestor, curador e colecionador de arte
Novembro 14, 2024
Retrato de Emanoel Araújo. Foto: Eduardo Knapp / Folhapress
Retrato de Emanoel Araújo. Foto: Eduardo Knapp / Folhapress

 

Na véspera do dia que seria aniversário de Emanoel Araújo relembramos o imenso legado deste artista que compõe a atual exposição do Zipper Open – braço da galeria dedicado ao mercado secundário de arte. Por meio desta breve recapitulação de sua história e pesquisa poética, lembramos a importância de preservar e honrar a herança cultural que ele tão habilmente elevou, contribuindo para que as histórias, símbolos e tradições africanas sigam presentes e respeitadas no Brasil e no mundo.


Conteúdo do artigo:

 


Uma figura múltipla e influente 

Nascido em Santo Amaro, na Bahia, em 1940, Emanoel Araújo é celebrado como um dos gigantes da História da Arte, não apenas por seu trabalho plástico, mas também por ter sido uma figura pública influente na preservação e valorização das raízes africanas na cultura nacional. 


Idealizador e primeiro curador do Museu Afro Brasil em São Paulo – que, desde sua morte em 2022, leva seu nome –, Emanoel Araújo concretizou um espaço dedicado a contar a história e as contribuições das populações afrodescendentes no Brasil. Desde a sua fundação, o museu tornou-se uma referência no país, sendo palco de importantes exposições históricas, como por exemplo da coletiva “A Mão Afro-Brasileira”, curada por Araújo, e que foi pioneira em apresentar um dos maiores panoramas da produção de artistas negros, marcando um ponto de virada na história da arte no país. 


Ao longo de sua extensa carreira como gestor cultural, dirigiu o Museu de Arte da Bahia em Salvador, de 1981 a 1983, e a Pinacoteca do Estado de São Paulo entre 1992 e 2002 – onde tornou-se o primeiro diretor negro do museu. Nesta segunda, Araújo foi responsável por modernizar o espaço, alcançar novos públicos, além de ampliar em volume e relevância o acervo, propondo exposições que exploravam a diversidade cultural e as contribuições da diáspora africana ao Brasil.


Emanoel foi ainda um colecionador visionário, que construiu uma das maiores coleções privadas da América Latina. Ao longo das décadas, ele mapeou a diversidade e a profundidade das expressões artísticas de artistas negros, sendo responsável por descobrir, apoiar e inserir no mercado diversos nomes. Em 2023, mais de cinco mil peças foram leiloadas e arrematadas pelo grupo Lia Maria Aguiar por R$ 30 milhões, confirmando a importância histórica de seu acervo. 

 

Produção artística visual

Emanoel Araújo, “Sem título”, 1996


O reconhecimento da carreira de Emanoel Araújo enquanto artista começou já na sua terra natal, onde realizou sua primeira exposição individual em 1959 e apresentou xilogravuras voltadas ao teatro. Na década seguinte, sua obra foi se tornando cada vez mais abstrata, enquanto ele se firmava como um expoente nas gravuras e esculturas geométricas. Nos anos 1970, foi premiado na 3ª Bienal Gráfica de Florença e pela Associação Paulista de Críticos de Arte, que o considerou o melhor escultor e gravador do país. E finalmente, em 1981, ele recebeu sua primeira de três individuais no MASP, em São Paulo.


Na atual edição do Zipper Open, em cartaz na Zipper Galeria até 20 de dezembro, a escultura “Sem Título” (1996) de Araújo integra a curadoria de obras. Feita em madeira e pinho de riga, essa peça tridimensional exibe uma composição de fortes contrastes por meio de formas angulares pintadas de preto e áreas onde a madeira natural permanece exposta. Assim como todo o seu corpo de trabalho, essa escultura enreda a tradição com a contemporaneidade, se apoiando nas simbologias das cores e da geometria. EVale dizer que esses dois elementos são mais do que um recurso formal, pois carregam simbolismos ligados à ancestralidade africana.


Com 160 x 110 x 20 cm, a escultura de parede se aproxima do vocabulário dos movimentos construtivistas que se consolidaram em São Paulo nos anos 1950. Porém, a geometria que define suas obras tem uma raiz estética distante da tradição sudestina brasileira, sendo mais propriamente associada às influências das expressões visuais de matriz africana, resistindo à homogeneização cultural e reafirmando a importância das raízes negras na construção da identidade nacional.


Serviço:

Zipper Open

Período de visitação: até 20 de dezembro de 2024

Local: Zipper Galeria – Rua Estados Unidos 1494, São Paulo