Perdeu as notícias mais marcantes no campo das artes visuais durante o mês de julho? Não se preocupe, aqui estão alguns dos nossos destaques para mantê-lo informado. A começar pelo campo da tecnologia que avançou ainda mais com a criação de uma obra feita por inteligência artificial capaz de "imprimir imagens da mente" sem solicitações textuais. Na arqueologia, a descoberta da obra mais antiga do mundo trouxe novas luzes sobre o princípio da criatividade humana. Além disso, a comercialização de um item inusitado movimentou o circuito: uma caneta que contém o cheiro de uma obra de arte de Leonardo da Vinci. Já os artistas Ricardo Rendón e Flávia Junqueira, representados pela Zipper Galeria, brilharam em exposições no exterior. Confira!
Conteúdo do artigo:
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A obra de arte mais antiga do mundo é descoberta em uma caverna na Indonésia
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Artista brasileiro é acusado de roubar peça do British Museum
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Agosto em perspectiva: arte têxtil em alta e Laura Villarosa na Zipper Galeria
Obra feita por IA supera expectativas em leilão
Obra "Stagnant Elixir’s Sweet” (2024), do coletivo Obvios
O coletivo francês Obvious está novamente em destaque no mundo da arte com sua mais recente obra gerada por inteligência artificial: "Stagnant Elixir’s Sweet” (2024). Conhecido por ter leiloado o primeiro trabalho de arte gerado por IA em 2018, o grupo agora retorna ao mercado com uma proposta ambiciosa por meio de sua série "IMAGINE". Utilizando uma combinação de IA e ressonância magnética funcional, as obras desta produção são resultado de novos avanços com tecnologia de aprendizado de máquina que são capazes de “imprimir imagens diretamente da imaginação”, sem a necessidade de solicitações textuais.
"Stagnant Elixir’s Sweet” foi a leilão pela Christie's em 17 de julho e superou suas estimativas que estavam entre US$ 7.000 e US$ 10.000, atingindo surpreendentes US$ 35.280.
A obra de arte mais antiga do mundo é descoberta em uma caverna na Indonésia
Foto: Griffith University
Uma equipe de pesquisadores australianos e indonésios, liderada Adhi Agus Oktaviana da Agência Nacional de Pesquisa e Inovação da Indonésia (BRIN), usou um novo método conhecido como “série de ablação tardia de urânio” (série LA-U), que analisa pequenas camadas de carbonato de cálcio que se formaram sobre uma arte na ilha indonésia de Sulawesi e a identificaram com idade mínima de 51.200 anos. A descoberta significa cerca de 5.000 anos a mais do que os exemplos mais antigos conhecidos anteriormente e faz recuar o marco inicial em que os humanos demonstraram pela primeira vez a capacidade de pensamento criativo.
Os desenhos, localizados na caverna Leang Karampuang, incluem figuras semi-humanas, conhecidas como "teriantropos", aparentemente caçando porcos.
Cheiro da pintura de Da Vinci é comercializado
Foto cortesia do Museu Nacional da Cracóvia.
Em 2021, o Museu Nacional de Cracóvia chamou o pesquisador-chefe Tomasz Sawoszczuk para avaliar a qualidade do ar dentro da caixa de vidro da obra “Dama com Arminho” (c. 1489 - 91) de Leonardo da Vinci. Ao abrir a caixa e sentir o cheiro da madeira de nogueira – usada como base da pintura – e da tinta a óleo, Sawoszczuk teve a ideia de compartilhar a experiência com mais pessoas, que devido às questões de conservação, não têm a mesma oportunidade. O pesquisador então liderou um projeto chamado Odotheka, que visa criar uma espécie de biblioteca de aromas com base nos objetos colecionados pelos museus.
Atualmente em parceria com o Museu Nacional de Cracóvia e o Museu Nacional da Eslovênia, o projeto já encabeçou a reprodução dos cheiros de 10 itens culturais. O primeiro a ser comercializado, encapsulado em uma caneta, é a obra-prima de Leonardo do século XV. O objetivo não é criar um perfume comercial, mas sim oferecer uma experiência sensorial para os visitantes do museu.
Artista brasileiro é acusado de roubar peça do British Museum
Como parte do seu projeto de mestrado na Goldsmiths University of London, o artista brasileiro Ilê Sartuzi trocou uma moeda antiga, do setor de objetos táteis do British Museum, em Londres, por uma réplica que ele levava no bolso, registrou a ação e divulgou em suas redes sociais. O ato performático, intitulado "Sleight of Hand", virou manchete dos principais veículos da imprensa internacional, que citou o caso como um meticuloso roubo, apesar do artista nunca ter saído da instituição com a peça original – ele a deixou na caixinha de doações do próprio museu.
"Sleight of Hand" é uma expressão em inglês que se refere à maneira habilidosa e discreta que as mãos são usadas em truques de mágica. Em português, a expressão pode ser traduzida como "truque de mão" ou "jogo de mãos”. Segundo o advogado do artista, o projeto, que envolveu mais de um ano de planejamento e três amigos filmando a cena, não violou as políticas do museu nem a lei de roubo. O incidente ocorre em um contexto de crescente debate sobre a repatriação de artefatos culturais saqueados durante o colonialismo.
O caso traz à tona o ditado popular e o questionamento: “Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”? Em sua dissertação, Sartuzi questiona o passado colonial de grande potências europeias – como é o caso da Inglaterra – que se desenvolveram às custas do roubo de bens culturais especialmente de países sul-globais, questionando: quem está roubando quem?
Artistas Ricardo Rendón e Flávia Junqueira, representados pela Zipper Galeria, expõem em mostras internacionais
Ricardo Rendón, Area de Trabajo, 2010
O artista Ricardo Rendón, que combina procedimentos industriais e artesanais para pesquisar a desmaterialização dos objetos, atualmente está participando de uma mostra no Instituto de México en España, em Madrid, que reúne, até o dia 18 de outubro de 2024, trabalhos de doze artistas mexicanos provenientes da coleção de Loren Pérez-Jácome e Javier Lumbreras. Sob o título “En el interior del cielo”, a exposição toma os versos do poema homônimo, escrito por Nezahualcóyotl no século XV, para trazer à tona perspectivas pré-hispânicas que, historicamente, estiveram escondidas por trás das narrativas ocidentais.
Já Flávia Junqueira, transformou o Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, com mais de 1000 balões. Combinando o real com o fictício, o presente com o passado, o adulto com a criança, a instalação da artista paulista em Portugal, que permaneceu aberta à visitação por apenas oito horas no dia 27 de julho, foi eternizada, como de costume de Junqueira, em fotografia, compondo a série “Theatros”.
Arte têxtil em alta e Laura Villarosa na Zipper Galeria
Um recente artigo da Artnet News apontou para uma tema em crescente popularidade: a arte têxtil no mercado e no meio crítico. O texto menciona a exposição "The Golden Thread: A Fiber Art Exhibition", no The Seaport, em Nova York, que apresentou obras têxteis de 61 artistas consagrados e emergentes, além da crescente presença desta linguagem artística em museus, galerias e feiras de arte nos últimos anos, com preços das obras numa constante crescente. O artigo sublinha que artistas que trabalham com materiais têxteis estão alcançando novos patamares em leilões e exposições. Esse movimento de reconhecimento da arte têxtil, tanto em termos de críticos quanto de valores de mercado, se conecta com o interesse tardio por artistas mulheres e negros que historicamente trabalharam com esses materiais.
A próxima exposição na Zipper Galeria, "Lugar de Passagem”, que acontece de 10 de agosto a 6 de setembro de 2024, traz trabalhos inéditos de uma artista expoente da plasticidade têxtil: Laura Villarosa. Ela utiliza uma combinação original de técnicas têxteis, pintura acrílica, aquarela e resina para criar cenários paisagísticos como se fossem observados a partir de um veículo em movimento, propondo uma analogia poética sobre a passagem do tempo.