3 obras de arte contemporânea para inspirar o seu jantar

Sophie Calle, Judy Chicago e André Feliciano propõem o encontro entre a arte e a gastronomia
Julho 19, 2024
Sophie Calle, The Chromatic Diet, 1997
Sophie Calle, The Chromatic Diet, 1997


Desde obras bastante literais, como a “The Chromatic Diet’ de Sophie Calle, na qual a artista se autorestringe a escolher suas refeições não pelo gosto do alimento em si, mas por suas cores, até jantares mais simbólicos e poéticos, como a obra de Judy Chicago, que transformou um banquete em celebração simbólica das conquistas femininas através dos séculos. Conheça três obras de arte contemporânea que propõem um entrosamento com a gastronomia, que podem, quem sabe,
inspirar um jantar temático fora da rotina.

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Sophie Calle, The Chromatic Diet, 1997



Sophie Calle é uma artista francesa cujos trabalhos conceituais partem de proposições inusitadas, como seguir um estranho na rua ou trabalhar como camareira para fotografar quartos de hotel bagunçados. A espontaneidade de Calle inspirou o escritor norte-americano Paul Auster a incorporar algumas histórias da artista em seu romance “Leviathan” de 1992, atribuindo-as à sua personagem Maria. Porém, com a publicação, os papéis se inverteram e foi a vez de Calle ser inspirada por Auster. O autor teria escrito que a personagem Maria restringia sua alimentação de acordo com uma única cor a cada dia da semana. “Para aproximar Maria e eu, decidi obedecer ao livro”, escreve Calle sobre sua série de obras, “The Chromatic Diet”. O ritual, portanto, consistia em elaborar as refeições monocromáticas inspiradas pelo livro, registrá-las em fotografia e, então, exibi-las acompanhadas de suas anotações. Na segunda-feira, por exemplo, cuja cor que nortearia sua comida era laranja, ela escreveu: “Purê de cenoura, camarões cozidos, melão cantaloupe. Paul Auster esqueceu de mencionar bebidas, então me permiti completar o menu com suco de laranja.”

 

Judy Chicago, The Dinner Party, 1974–1979


"The Dinner Party" é uma dos trabalhos mais icônicos da carreira da artista feminista Judy Chicago. Apresentada pela primeira vez em 1979, hoje a obra monumental encontra-se permanentemente exposta no Elizabeth A. Sackler Center for Feminist Art, no Brooklyn Museum, em Nova York, EUA. 


A instalação presta uma homenagem às conquistas das mulheres ao longo da história, dando a cada uma um lugar à mesa triangular de um banquete simbólico. Nela, cada lado do triângulo é dedicado a mulheres de uma era histórica diferente: o primeiro lado homenageia deusas e figuras históricas da pré-história até o Império Romano; o segundo, mulheres dos primórdios do cristianismo até a Reforma; e o terceiro, mulheres da Revolução Americana até o movimento feminista.

 

 

Cada lugar na mesa, inclui uma toalha bordada com o nome e os feitos da homenageada, um cálice, talheres e um prato cerâmico que evoca a imagem de uma vulva estilizada, refletindo as cores e características da mulher representada. Ao centro, no chão, há também um piso branco com os nomes de outras 999 mulheres que contribuíram significativamente para a história. 


André Feliciano


Você é aquela pessoa que antes de dar a primeira mordida ou garfada, já prepara o celular para fazer aquela foto clássica para as redes sociais?

Em “Jantar para Philippe Dubois”, cujo título da obra cita o nome de um grande teórico da atualidade que dedica suas pesquisas sobre o ato fotográfico, André Feliciano não critica essa prática, mas propõe uma espécie de “direito à resposta” da comida. Ele começa moldando os alimentos, no caso uma melancia e um pudim, no seu típico formato de câmera, idealizado por ele mesmo dentro das proporções áureas. A partir disso, Feliciano sugere que a própria refeição pudesse nos fotografar de volta, nos tirando da posição de, nas palavras do artista, “predadores famintos por imagens” e criando um diálogo amistoso de correspondência.