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Piriquitão Night Club: o patriarcado é um saco
Vista da exposição “Piriquitão Night Club: o patriarcado é um saco” na Zipper Galeria. Crédito Gui Gomes
Sob o título “Piriquitão Night Club: o patriarcado é um saco”, a quarta individual de Camila Soato na Zipper Galeria é uma manifestação de sua experiência na zona rural durante a pandemia. No período em questão, a artista empreendeu a tarefa de construir uma casa com suas próprias mãos, minimizando o envolvimento de terceiros. O contexto culminou na exposição de cerca de 50 obras, entre pinturas e quatro esculturas, que incluem os materiais que a circundaram durante este processo como elementos poéticos. Nesta produção, a artista costura diferentes tempos da história, cruzando releituras dos considerados grandes mestres da História da Arte, como Cézanne, Claude Monet e Caravaggio, em diálogo com memes e cenas de seu cotidiano.
Construções: casa, imagens, suportes e poéticas
A partir de suas pesquisas sobre a técnica de pau-a-pique e construções alternativas, a artista se inspirou para também experimentar materiais incomuns e explorar outros processos de construções manuais em sua produção artística. Assim, as pinturas apresentadas na exposição foram manipuladas por Camila antes mesmo do pincel tocar a superfície, afinal ela construiu suas telas desde o bastidor, esticando tecidos domésticos, como lençóis, toalhas de mesa e cortinas, e só então aplicou as imagens sobre eles.
Vista da exposição “Piriquitão Night Club: o patriarcado é um saco” na Zipper Galeria. Crédito Gui Gomes
Além das tintas tradicionais a óleo, a artista também incorporou nas pinturas e paredes da Galeria o barro vermelho de Planaltina de Goiás, a cidade onde passou parte de sua infância ao lado de sua avó e onde construiu a casa em questão. Mas a cidade não é referenciada apenas nos materiais adotados, as cenas cotidianas também se tornaram temas centrais de suas obras que registram fachadas de bares, gambiarras e pessoas em situações comuns.
Apropriação de imagens e aspectos políticos
Segundo a curadora Gabriela Rodrigues, o aspecto político permeia a produção artística de Camila Soato em todas as suas dimensões, mesmo quando menos evidente à primeira vista. Além das representações de cenas cotidianas, os trabalhos abraçam referências explicitamente políticas, como o incêndio do monumento em homenagem ao bandeirante Borba Gato de 2021, e outras mais sutis, muitas vezes através de uma abordagem irônica. É o caso de seus personagens recortados dos cânones da História da Arte europeia e reimaginados sob diferentes contextos de diálogo com a cultura pop contemporânea.
Entendendo que essa História por muito tempo silenciou as vozes daqueles que não ocuparam posições de poder, a produção da artista busca trazer realizar um movimento decolonial de reescrita. Suas citações cômicas criam pontos de reflexão sobre quem são os autores dessa História e, consequentemente, seus protagonistas.
Na pintura intitulada "O patriarcado é um saco", por exemplo, Soato faz uma apropriação da apropriação. Para questionar a representatividade feminina dentro dos museus, em 1989 as Guerrilla Girls se apropriaram da imagem da pintura de Jean Auguste Dominique Ingres, “La Grande Odalisque” de 1814, substituindo o rosto da concubina por uma cabeça de gorila – marca registrada do grupo. Agora foi a vez de Soato de adicionar uma nova camada ao debate: ela pintou a figura híbrida ao lado de uma senhora que tricota uma trama com a frase que dá nome à obra.
Camila Soato, O patriarcado é um saco, 2023
Visite a Zipper
Confira pessoalmente mais sobre essa série de trabalhos da artista que desafiam as convenções de criação e representação visitando sua exposição na Zipper Galeria até o dia 07 de outubro deste ano. Te aguardamos.
Serviço:
Piriquitão Night Club: o patriarcado é um saco
Período expositivo: até 07 de outubro de 2023
Local: Zipper Galeria
Endereço: R. Estados Unidos 1494 - Jardim América - São Paulo
Entrada gratuita
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