Hoje em dia, existem centenas de Bienais pelo mundo. Mas duas se destacam como as mais antigas e mais relevantes, sendo que uma delas é brasileira. Entenda com a gente tudo o que você precisa saber sobre as Bienais de Veneza de São Paulo.
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Como surgiram as primeiras Bienais de Arte?
Primeira edição da Bienal de Veneza
Era 30 de abril de 1895 quando a I Esposizione Internazionale d’Arte della Città di Venezia (1ª Exposição Internacional de Arte da Cidade de Veneza) foi inaugurada na presença do Rei e da Rainha, Umberto I e Margherita di Savoia, e com grande aclamação do público (224.000 visitantes). Deste dia em diante, o evento se estabeleceu como barômetro da arte global, sendo até hoje a exposição de arte mais prestigiosa do mundo.
De forma muito vaga, podemos dizer que a Bienal é composta por: uma exposição principal no Padiglioni Centrale (Pavilhão Central); pavilhões organizados por dezenas de países; e exposições organizadas de forma independente marcadas pela Bienal como eventos colaterais oficiais.
Já em terras latinas, em 1951, o Museu de Arte Moderna (MAM-SP), encabeçado por Ciccillo Matarazzo, ousa empreender a I Bienal de São Paulo sob os moldes italianos, com a intenção de conquistar para a cidade a posição de "centro artístico mundial". Assim, a primeira edição aconteceu na Av. Paulista, numa estrutura provisória de 5 mil m², levantada em frente ao Parque Trianon, onde o MASP está hoje. Apesar do vácuo de mais de cinco décadas, é importante lembrar que não existiam outras Bienais pelo mundo até então, por isso a estreia ainda foi bastante ímpar.
A Bienal apontada como mais relevante do séc. XX
Guernica na 2ª Bienal de São Paulo
Já que estamos em perspectiva de comparação, não podemos deixar de destacar a segunda edição da Bienal de São Paulo, de 1953, que foi muito bem sucedida e até citada em textos de época como melhor do que a de Veneza. O próprio secretário da Bienal italiana disse: “Os paulistas realizaram em dois anos o que demoramos 50 anos para conseguir.”
Foi neste ano que Ciccillo e Yolanda Penteado conseguiram trazer a “Guernica” de Picasso – que até hoje não costuma circular pelo mundo – para cá. O empréstimo veio do MoMA, visto que os Estados Unidos queria estreitar as relações com o Brasil durante a Guerra-Frida e haviam se comprometido a guardar a pintura enquanto houvesse fascismo na Espanha. A edição também contou com obras de Munch, Duchamp, Volpi, Di Cavalcanti – os dois últimos dividiram o prêmio de melhor pintura – e se estendeu até o ano seguinte, para fazer parte das comemorações do 4º Centenário da cidade de São Paulo.
Principais diferenças: pavilhões nacionais e premiações
Pavilhão do Brasil na 59ª edição da Bienal de Veneza
Desde o início, os organizadores da Bienal de Veneza incentivaram os países a construírem seus próprios pavilhões para apresentar as exposições de um ou mais artistas, com o entendimento de que as próprias nações arcariam com todos os custos de construção, manutenção e programação. Hoje em dia, mais de 80 pavilhões compõem esse grande festival de arte. Mas nem todos os Pavilhões ficam no Giardini, ou em português “Jardins”, que é o local criado por Napoleão no início do século XIX e que, tradicionalmente, abriga a exposição central desde a primeira edição. Atualmente, o Giardini abriga 29 pavilhões de países estrangeiros e estes recebem um destaque dentre os demais (e sim, o Brasil está nele!).
Por tudo isso, não é exagero afirmar que a Bienal de Veneza é um evento mais diplomático do que a de São Paulo, que teve espaços dedicados aos representantes de cada país, mas isso mudou na 16ª edição, 1981, quando o primeiro curador-geral da mostra, Walter Zanini, aboliu essas categorias.
Outra grande diferença são as premiações, que o evento brasileiro parou de fazer a partir da 15ª edição, em 1979, que trouxe uma retrospectiva das quatorze edições anteriores. Em suma, a Bienal de Veneza concede três prêmios: um Leão de Ouro para a melhor participação nacional, um Leão de Ouro para o melhor participante da mostra principal e um Leão de Prata para o mais promissor jovem participante no programa principal. O júri internacional de curadores também pode conceder uma menção especial a uma nação participante e duas menções especiais a artistas da mostra principal. Além disso, o diretor artístico ainda pode propor um Leão de Ouro pelo conjunto da vida, o que é confirmado pela diretoria da Bienal, geralmente antes da abertura da mostra.
Primeiro curador sul-global da Bienal de Veneza
É preciso dizer que o evento mais tradicional do mundo, ao longo de todos esses anos, refletiu alicerces bastante homogêneos e excludentes. Mas, a pequenos passos, o cenário tem mudado positivamente. No ano passado, a italiana Cecília Alemani trouxe um foco inédito para artistas femininas e não-binaries na sua curadoria da 59ª edição. Já no ano que vem, o brasileiro e atual Diretor Artístico do MASP Adriano Pedrosa será o primeiro curador sul-americano a ocupar o posto de curador da exposição principal da Bienal.
E já temos alguns spoilers do que esperar desta curadoria! Segundo um recente anúncio de Pedrosa, a edição terá o título "Stranieri Ovunque" ("Estrangeiros por toda parte") e foco no atual deslocamento humanitário, ou seja, em pessoas LGBTQIAP+, indígenas, diaspóricos e refugiados. O nome é inspirado por uma série de neons da artista Claire Fontaine em diferentes idiomas, cuja frase, por sua vez, vem do nome de um coletivo de Turim que lutou contra o racismo e a xenofobia na Itália no início dos anos 2000. A jornalista Paula Alzugaray também nos lembra que, apesar de não ter sido comentado na coletiva, a mesma frase, em tupi, foi o título do 31ª Panorama da Arte Brasileira do MAM-SP, curado por Pedrosa em 2009.